terça-feira, maio 08, 2012

A semente do mal


Ao contrário de Elephant de Gus Van Sant ou Afterschool de Antonio Campos, Temos de Falar Sobre Kevin, de Lynne Ramsay não é essencialmente um filme sobre violência na escola (embora a narrativa aí nos conduza). O filme opta antes por acompanhar os efeitos numa mãe (interpretada por uma sempre magnífica Tilda Swinton) de um tremendo ato de violência cometido pelo filho, interpretado por Ezra Miller, o mesmo de Afterschool (e não sendo adepto do “spoiler”, não se conta aqui o que aconteceu)... Os movimentos, o olhar, o quotidiano da personagem que Tilda Swinton aqui veste traduzem todo o peso de uma mãe que aceita carregar em si um sentido de responsabilidade pelo que aconteceu, ao mesmo tempo que procura uma nova vida.

Se essencialmente focado na figura da mãe o filme seria outro (e mais interessante). Porém, a realizadora procurou fazer a história da semente do mal. Ou antes, a sua ilustração. E numa sucessão de memórias recorda um bebé que não parava de chorar, um menino zangado e incapaz de comunicar com a mãe, um adolescente frio e distante que só mostra satisfação quando, um dia, recebe um arco e flechas (prenda errada!). O era-uma-vez do pequeno “monstro” surge todavia numa série de quadros visuais de um simplismo que observa sem se questionar sobre os comos nem os porquês, a dose XXL de maldade que os comportamentos do pequeno Kevin lança desde cedo sugerindo um retrato que vemos com uma superficialidade psicológica que pode fazer sentido num filme de terror mas carece de outra dimensão num filme que, pelas premissas visuais e narrativas que este lança nas primeiras sequências, poderia ter ido mais longe. Houve um crítico americano que disse que Temos de Falar Sobre Kevin seria um pouco como um The Omen filmado por Miranda July... É capaz de ter razão. E é pena.