domingo, maio 27, 2012
Nos primórdios da eletrónica
O músico francês Thomas Bloch, um especialista em instrumentos raros, apresenta uma série de peças para Ondas Martenot assinadas por compositores como Messiaen, Matinú ou Redolfi,. num álbum lançado pela Naxos.
Uma viagem aos primórdios da música electrónica. Ou, pelo menos, um encontro com um dos primeiros instrumentos a colocar em cena coordenadas que, em finais do século XX, mudariam radical e globalmente as formas e modos de entender e ouvir música. Muito antes dos Kraftwerk, Tangerine Dream ou Walter Carlos, antes ainda de Stockhausen, a música electrónica tinha já uma história que remonta a inícios do século XX e a experiências que tanto juntavam uma visão musical desafiante ao engenho técnico que, com base na descoberta de certas propriedades da eletricidade e das máquinas elétricas, descobriu todo um novo campo a explorar. Contemporâneas da revelação do theremin russo, as ondas martenot - invenção do francês Maurice Martenot (1898-1980), que fora telegrafista nos dias da I Guerra Mundial – entram em cena em 1928 após a descoberta da variação das propriedades sonoras dos efeitos da oscilação da corrente em tubos de vácuo. As potencialidades do novo instrumento foram exploradas por compositores como Olivier Messiaen, Pierre Bloulez ou Edgar Varèse, chegando aos terrenos da música popular com Léo Ferré ou Jacques Brel (em Ne Me Quittes Pas), conhecendo recentemente presença importante no trabalho de Johnny Greenwood (tanto em nome próprio como, sobretudo, nos Radiohead).
Tomas Bloch (n. 1962), um especialista em instrumentos raros, é um dos maiores intérpretes mundiais de ondas martenot. E neste disco que editou pela Naxos em 2004 (e que está novamente disponível entre nós) apresenta uma impressionante coleção de peças representativas da história da utilização deste instrumento, seis delas em primeiras gravações mundiais. Da integração num quadro de orquestra em Fantasie, de Bohuslav Martinú (1890-1052) ou em Kyriades de Bernard Wilsson (n. 1948) à representação de Olivier Messaien (1908-1992), um dos maiores entusiastas das ondas martenot, em Feuillet Inédit Nº 4, da exploração de diálogos com a voz, em clima eletroacústico, em Mare Teno, de Michel Redofi (n. 1951) a peças expressamente compostas pelo próprio Bloch - entre as quais o irresistível e repetitivo Formule, que muitas vezes usa em encores dos seus recitais, ou Euplotes 2, co-assinado com Olivier Touchard, onde nos aproximamos dos ambientes de um Phaedra, dos Tangerine Dream - o disco é, além de um retrato das potencialidades de um instrumento marcante na história da música electrónica, uma viagem aos primórdios de sons e formas que fazem hoje a música de todos os dias.
Podem ler aqui sobre Thomas Bloch e as ondas martenot (inclui vídeos).