domingo, abril 22, 2012

Memórias de Londres


Uma nova gravação da segunda sinfonia de Vaughan Williams pela Rochester Philharmonic, dirigida por Christopher Seaman. A edição é da Harmonia Mundi, em SACD.

Não foi concebida como um “programa” de retrato da cidade, antes uma reflexão de um londrino sobre a sua cidade, pela música escutando-se referencias a ambientes, vivências e, ocasionalmente, evocações de sons da cidade. A dada altura Ralph Vaughan Williams (1872-1958) pensou que seria melhor chamar-lhe algo como a “sinfonia de um londrino”... Mas a sua segunda sinfonia acabou mesmo com o nome A London Symphony. E, como as demais da sua obra sinfónica, é um claro exemplo não apenas de uma certa identidade inglesa que mora na sua música como um dos grandes momentos da escrita sinfónica da alvorada do século XX. Mesmo não descritiva, a música acompanha um ciclo diurno, do alvorecer dinâmico (com a vitalidade de uma metrópole que desperta) que escutamos no primeiro andamento a caminhos por espaços mais sombrios, onde moram solidão, tons de melancolia e as cores menos vibrantes de um dia enevoado com chuva, acolhendo a chegada da noite na reta final...

Teve uma génese atribulada esta obra de Vaughan Williams. Estreada em Londres em março de 1914, viu a partitura original seguir pouco depois para a Alemanha, o compositor procurando aí quem publicasse a partitura. Mas o eclodir da I Guerra Mundial teve entre muitas consequências a perda desse original. E quando a sinfonia é interpretada pela segunda vez, perto de um ano depois, surge da junção de elementos de orquestração usados por alturas da preparação da estreia. Vaughan Williams regressaria a esta música pouco depois, a versão que hoje conhecemos resultando desse trabalho de revisão (que a encurtaria substancialmente).

Frequentemente gravada por orquestras britânicas, a London Symphony conhece nesta edição da Harmonia Mundi uma leitura (notável, sublinhe-se) pela ainda relativamente pouco conhecida Rochester Philharmonic (que tem todavia já algumas gravações nesta editora), sob direção de Christopher Seaman. O alinhamento é integralmente dedicado a Vaughan Williams, apresentando depois da sinfonia a obra coral Serenade To Music, de 1939.