sexta-feira, abril 20, 2012

Cannes 2012: Cronenberg e os outros

1. Que se esconde por detrás dos óculos de Robert Pattinson? Um enigma que se confunde com uma transparência perturbante: ao adaptar o romance Cosmopolis, de Don DeLillo, David Cronenberg não se limita a exponenciar a dimensão visionária de um livro que arrisca lidar com a obscenidade do poder do (nosso) dinheiro; ao mesmo tempo, ele faz um dos seus filmes mais pessoais, e mais radicais, desnudando a ilusão do prazer, quer dizer, o equívoco de todas as formas de gratificação.

2. Produzido por Paulo Branco, Cosmopolis é, antecipadamente, um dos acontecimentos centrais de Cannes/2012. E por muitas e frondosas razões, das quais vale a pena, desde já, enunciar duas:
a) - Cronenberg resgata a estrela "juvenil" de Twilight/Crepúsculo, dando-nos a ver um actor imenso que transcende modelos espectaculares ou padrões etários;
b) - Branco reafirma-se no coração vivo do cinema — e não tanto porque Cannes é o maior festival do mundo, mas sobretudo porque Cosmopolis se distingue como um gesto de uma nobreza cinematográfica que continua a resistir a todas as formatações televisivas.

3. Em boa verdade, Cosmopolis é "apenas" uma das propostas de um certame que se arrisca a ter uma das suas mais admiráveis edições dos últimos dez ou quinze anos (lembremos o espantoso ano de 1992 onde confluíram A Bela Impertinente, de Jacques Rivette, A Dupla Vida de Véronique, de Krzysztof Kieslowski, Brigada de Homicídios, de David Mamet, Malina, de Werner Schroeter, Van Gogh, de Maurice Pialat...). Em 2012, teremos, entre outros, Michael Haneke, Abbas Kiarostami, Alain Resnais... [dossier de imprensa].