terça-feira, março 06, 2012

Filmes pe(r)didos:
Adventureland, de Greg Mottola
por João Lameira


Memórias de filmes afastados daquelas listas habituais que fazem a conversa de todos os dias. Filmes "perdidos". Ou se preferirem, "filmes pedidos"... Hoje lembramos Adventureland, filme de 2009 de Greg Mottola, que aqui é evocado por João Lameira, autor do tumblr Numa Paragem do 28. Um muito obrigado ao João pela colaboração.

Vítima de distribuição e publicidade mal gizadas, Adventureland passou um tanto despercebido nos cinemas (por cá nem estreou). A leve obscuridade (nada é verdadeiramente obscuro hoje em dia) assenta-lhe bem. Desta maneira, é mais nosso, dos que gostam muito dele. Lembro-me que estávamos chateados nesse dia e andavam ratos lá por casa (assuntos não relacionados). Fomos ao cinema para esquecer. Em vez disso, lembrámo-nos. O que vimos apaziguou-nos, aquela história de amor era a nossa: ele meio tímido e pateta, ela magoada e indecisa.

Adventureland é o filme que Greg Mottola, que tinha no currículo muito trabalho para a televisão e um pequeno indie nos anos 90, só pôde fazer depois ao êxito de Superbad: mais do que comédia desbragada ou produto de Sundance (estará mais próximo da conjugação perfeita que foi a série televisiva Freaks and Geeks; a presença do fabuloso Martin Starr não engana), é Renoir para os jovens adultos do séc. XXI — todas as personagens, à excepção dos bullies caricaturais, têm as suas razões; todas as personagens têm os seus problemas, mesmo as aparentemente confiantes; todas são tratadas com a mesma serenidade de olhar, a mesma doçura e justeza.

A história, mais ou menos auto-biográfica, anda à volta de um recém-licenciado que não sabe muito bem que rumo dar à vida e empata o tempo a trabalhar num parque de diversões decrépito nas férias de Verão, onde encontra outros como ele. O ano é 1987, mas pouco importa, a não ser pela omnipresente Amadeus. Ouve-se mais a Pale Blue Eyes dos Velvet Underground (uma homenagem avant la lettre à soberba, meço bem as palavras, Kirsten Stewart), ou os Crowded House enquanto explode o fogo-de-artíficio.

O final pode parecer demasiadamente feliz, à medida de qualquer comédia romântica, quebrando o absoluto "realismo" anterior (a ideia de que as coisas são mesmo assim prevalece quase todo o tempo): um reencontro numa noite chuvosa em Nova Iorque. A única defesa que posso apresentar é que a nossa história de amor teve um final feliz quanto esse.