segunda-feira, janeiro 02, 2012

Menos espectadores nas salas...

Das mais diversas origens, de Portugal aos EUA, chegam notícias de uma baixa da frequência nas salas de cinema, em 2011 (com excepções significativas: por exemplo, a França). Vale a pena, por isso, ler o artigo de Roger Ebert [foto] com um título de sugestiva ironia: "Eu explico-vos porque é que a receita do cinema está a cair...". Entre os factores enumerados pelo crítico americano encontram-se o preço dos bilhetes, a degradação dos comportamentos nas salas escuras (incluindo a praga dos telemóveis...) e a concorrência de outras formas de consumo (incluindo o cada vez mais importante aluguer directo, "VOD"). Mas há um factor que, mais do que nunca, importa sublinhar, até porque está longe de ser especificamente americano. Ou seja: a falta de alternativas.
É um factor tanto mais importante quanto surge frequentemente mascarado por um jornalismo (de todos os quadrantes) que confunde a vida económica do cinema com os milhões dos blockbusters. Não poucas vezes, esse jornalismo rejubila com os 100 milhões feito por um filme, "esquecendo-se" de referir que custou, por exemplo, 200 e que, para mais, como é normal na grande indústria, se gastou pelo menos outro tanto na campanha de lançamento (isto para já não falar da percentagem que fica para o exibidor).
Escusado será dizer que um filme não é "bom" nem "mau" por ter custado um milhão ou um tostão. Mas é um facto que essa visão maniqueísta do mercado tende a escamotear a boa performance por vezes conseguidas por filmes "difíceis" ou "atípicos". Como refere Ebert, em 2011, no mercado americano as melhores receitas por ecrã (valor relativo, fundamental para avaliar o grau de aceitação de um filme) pertenceram a títulos independentes, estrangeiros ou de carácter documental.