sábado, fevereiro 19, 2011

Nixon in Lisboa


A Fundação Gulbenkian apresenta hoje pelas 18.00 horas, em transmissão em difereido do Met, em Nova Iorque, uma produção da ópera Nixon In China, de John Adams. Estreada em 1987, foi então a primeira ópera do compositor e também a sua primeira colaboração com o encenador Peter Sellars. Como o título sugere, somos transportados no tempo até a 1972, ano no qual ocorreu uma visita histórica do presidente norte-americano Richard Nixon à China de Mao, a ópera tomando assim como texto uma reflexão sobre os factos desse momento, por contexto o mapa político e social que traduzia o encontro e por personagens as figuras que, então, foram protagonistas da visita.

“Todas as minhas óperas lidaram, a níveis psicológicos profundos, com a nossa mitologia americana” afirma o próprio John Adams em palavras publicadas no site da Gulbenkian, acrescentando que “o encontro entre Nixon e Mao é um momento mitológico da história mundial e, em particular, da história americana.” É o próprio John Adams quem conduz a orquestra nesta produção que hoje a Gulbenkian apresenta em Lisboa e que representa um dos momentos maiores da presente temporada de transmissões em HD de óperas do Met.

JOHN ADAMS (maestro)
PETER SELLARS (produção)

Elenco:
KATHLEEN KIM
JANIS KELLY
ROBERT BRUBAKER
RUSSELL BRAUN
JAMES MADDALENA
RICHARD PAUL FINK



Nixon In China representou, em finais dos oitentas, a primeira incursão do compositor pelos espaços da política como ponto de partida para a construção de uma obra musical. A sua segunda ópera, The Death Of Klinghoffer (que data de 1991) recordaria depois o assalto ao navio italiano Achille Lauro por terroristas palestinianos. On The Transmigration Of Souls (obra de 2002) evoca as vítimas do 11 de Setembro. E a ópera Dr Atomic (2005), centra toda a sa atenção em volta de Oppenheimer nas horas que antecederam a primeira explosão atómica, em 1945.

Primeira ópera assinada por John Adams, Nixon In China representou, depois de Einstein On The Beach (1974), de Satyagraha (1980) e Akhnaten (1984), a trilogia-retrato de Philip Glass, a definitiva afirmação de uma renovada (e entusiasmada) relação do público dos nossos dias com o teatro musical. Afinal, a ópera estava viva, e de boa saúde! A música de Nixon In China reflecte ainda claramente sinais da etapa inicial da obra de John Adams, recorrendo ainda a formas e heranças directas do minimalismo, espaço ao qual podemos ligar a primeira etapa de uma obra que, com o tempo, mostrou depois saber caminhar adiante dessas primeiras linhas.


Podem ver aqui imagens de um excerto da ópera nesta sua nova produção apresentada pelo Met.

E aqui um post antigo sobre John Adams, Nixon In China e o interesse pelas questões políticas do compositor.