sábado, janeiro 01, 2011

A cultura dos downloads


Cartoon de Drew / Toothpaste for Dinner

A estreia do filme O Mágico confrontou-nos, uma vez mais, com as limitações do mercado "tradicional". Ao mesmo tempo, tais limitações não podem deixar de nos remeter para a questão universal, necessariamente complexa e multifacetada, dos downloads — a esse propósito, sugerimos a leitura das observações publicadas no blog de Victor Afonso.
No plano social, podemos dizer que passou a existir uma percentagem importante de espectadores (porventura uma ou duas gerações) cuja formação — prática, cívica e cinéfila — é indissociável de uma cultura audiovisual em que os downloads desempenham um papel nuclear. Escusado será dizer que seria grosseiro caracterizar tais espectadores a partir de uma perspectiva meramente legalista (downloads legais/ilegais). Por maioria de razões, seria estúpido transferir para tais espectadores a carga de uma qualquer "culpa" universal, seja ela económica ou simbólica.
Em todo o caso, nada disso anula uma dúvida central: que vai acontecer às salas "tradicionais" (e o adjectivo renova a ameaça de subsistência que pressentimos) num cenário de crescente normalização dos downloads como poderosa via de acesso a matérias audiovisuais, em particular de raiz cinematográfica?
Curiosamente, isso relança também uma pergunta que visa em primeiríssimo lugar, não os legisladores, mas os agentes do mercado cinematográfico: será que esses agentes  — distribuidores e exibidores, antes do mais — acreditam que é possível promover todas as formas de consumo dos filmes dispensando o papel das salas como montra do próprio cinema?