segunda-feira, setembro 06, 2010
Quanto vale um milhão?
A série televisiva Twilight Zone é uma verdadeira biblioteca de ideias que o cinema pode ainda explorar. É verdade que The Box (estreado entre nós como Presente de Morte) tem na origem o conto Button Button, de Richard Matheson, mas foi através de um episódio de Twilight Zone (na mais recente das vidas da série, em meados dos oitentas) que a história marcou pontos contra o esquecimento. E é aqui que entra em cena Richard Kelly que, assim, mostra que Donnie Darko não é caso único de interesse numa filmografia que na verdade ainda deu poucos passos.
Em traços largos, esta é a história de um casal como tantos outros. Têm um filho, ela, Norma Lewis (interpretada por Cameron Diaz) dá aulas, ele, Arthur (James Marsden) trabalha numa divisão da Nasa. Estamos nos anos 70, a missão Viking a Marte está na ordem do dia (e pela sala de trabalho de Arthur há até uma fotografia de Carl Sagan). Ambos vivem uma semana difícil no trabalho, com novas perspectivas profissionais a cair por terra. E todo um quotidiano gastador fica por equilibrar…
Um dia, a altas horas da madrugada, a campainha toca. À porta fica uma caixa. E dentro da caixa um dispositivo que não mais é senão um suporte para um botão. A explicação (apenas de parte da história, claro) chega com a visita de um homem de rosto desfigurado (interpretado por um soberbo Frank Langella) que explica as regras de um jogo. Ao primir o botão alguém no mundo, que o casal não conhece, morre nesse instante. E, ao mesmo tempo quem prime o botão ganha um milhão de dólares… São 24 horas para tomar uma decisão… O que fazer?
Com um enredo caracteristicamente nascido de uma etapa na história da literatura de ficção científica em que os comportamentos, mais que as naves, os planetas e alienígenas, tomaram um espaço determinante na focagem das atenções, The Box é um thriller narrativamente empolgante, visualmente acompanhado por uma competente recriação de época e protagonizado por um elenco que suporta a base realista de uma história que, rapidamente, mergulha no fantástico. Richard Kelly mostra novamente como sabe desenhar atmosferas intrigantes, alguns ecos do cinema de Kubrick e Lynch passando pelo seu olhar. No fim, um dos melhores títulos na área do cinema fantástico dos últimos tempos.
Nota ainda para uma bela banda sonora, assinada por Owen Pallett em conjunto com Win Butler e Regine Chassagne, dos Arcade Fire. Uma música que ainda espera eventual edição em disco.
Imagens do trailer de The Box