
Brothers/Entre Irmãos é um caso exemplar de abordagem da retaguarda da guerra no Afeganistão -- este texto foi publicado no Diário de Notícias (3 de Setembro), com o título 'A guerra, a política e a família'.
Os espectadores americanos não têm mostrado grande disponibilidade para os filmes sobre o envolvimento militar no Afeganistão e no Iraque. Mesmo com os seus seis Oscars, incluindo o de melhor filme de 2009, o próprio Estado de Guerra/The Hurt Locker, de Kathryn Bigelow, foi apenas um sucesso mediano. Sem querer favorecer a “sociologia” de telejornal, parece claro que as suas componentes despertam resistências várias, por certo porque a guerra não se esgota na geopolítica: é também algo que se entranha no quotidiano de muitas famílias.
Entre Irmãos, de Jim Sheridan, aposta em filmar os ecos dos combates no Afeganistão, precisamente a partir desse quotidiano. O desaparecimento de um soldado (Tobey Maguire) no teatro de guerra é-nos apresentado, sobretudo, através da vivência da sua mulher (Natalie Portman) e do irmão (Jake Gyllenhaal). Dito de outro modo: estamos longe do tom convencional do “filme de guerra”, prevalecendo um registo melodramático, capaz de dar conta da imbricação das questões políticas com a organização social e, em última instância, os valores do espaço familiar. Essencial em tal registo é o trabalho específico dos actores, notáveis de complexidade emocional, incluindo alguns secundários como Sam Shepard, Mare Winningham e Carey Mulligan.
