Para Sam Mendes, cineasta oscarizado com Beleza Americana, os actores continuam a ser uma matéria fundamental: Um Lugar para Viver (Away We Go), retrato íntimo e divertido de um jovem casal que prepara a chegada do primeiro filho, é um projecto de pequeno orçamento que confirma as suas opções temáticas e estéticas — esta é a segunda parte de uma entrevista publicada no Diário de Notícias (31 de Março), com o título 'Os pequenos filmes são cada vez mais difíceis de fazer'.
[1]
Foi muito diferente da preparação de uma peça de teatro?
Ensaiar para um filme é sempre diferente porque se trata de questionar os actores, observá-los e aprender. Não se procura que interpretem a cena porque, se o fizermos, é bem provável que não a consigam refazer dois ou três meses mais tarde, na rodagem. Aí, eles vão tentar recordar-se dos ensaios, mas não é isso que eu quero deles. Não se trata de fazer marcações no chão para que os actores as voltem a ocupar. Digamos que quero que o depósito esteja cheio e que, no momento certo, no cenário exacto, seja possível ligar a chave da ignição.
Alguma vez filmou com mais do que uma câmara?
Não, não creio que ter mais do que uma câmara seja importante para um filme deste género. Isso conta quando o equilíbrio da luz não é decisivo, ou quando filmamos explosões e coisas assim. Só usei duas câmaras em Jarhead, o que, curiosamente, me permitia ir dando indicações aos actores durante a filmagem.
Este é também um filme em que os lugares são importantíssimos. Será que houve também uma espécie de casting para as paisagens?
Sem dúvida. Visitei todos os lugares antes das filmagens, o que me ajudou a decidir praticamente tudo, desde o guarda-roupa até ao momento do dia em que iríamos filmar, incluindo as cores e texturas de cada ambiente. Para mim, era importante evitar os clichés do “road movie”, com aqueles planos de muito céu e de repente... olha, a Torre Eiffel! Não se tratava de mandar a segunda equipa para a estrada, dizendo-lhes para filmarem planos a partir da janela do carro em movimento. Quis encontrar imagens que condensassem aquilo que senti quando cheguei a determinado lugar. Por exemplo: Phoenix era aquela imagem do avião reflectido nas janelas de um prédio; Tucson o deserto imenso, com um carro a aparecer; Montreal a estrada com as casas de tijolo...
Há quem considere que filmes de pequena produção como Um Lugar para Viver têm cada vez mais dificuldade em chegar ao público.
Em chegar ao público, não sei. Mas é um facto que são cada vez mais difíceis de fazer. Estamos num momento complicado e sinto-me muito contente por ter sido possível fazer este filme, tanto mais que um projecto do género envolve muitos riscos para muita gente: é importante estarmos disponíveis para fazer filmes destes por pouco dinheiro e com grande rapidez. Ainda assim, os filmes que mais sofrem são os do meio, os que não são pequenos como Um Lugar para Viver nem grandes como Transformers ou Homem-Aranha. São filmes como Revolutionary Road, com estrelas, custando 50 ou 60 milhões de dólares. Este foi mais fácil porque é muito mais pequeno.
Qual foi o orçamento?
Aqui entre nós: 17 milhões de dólares.
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Foi muito diferente da preparação de uma peça de teatro?
Ensaiar para um filme é sempre diferente porque se trata de questionar os actores, observá-los e aprender. Não se procura que interpretem a cena porque, se o fizermos, é bem provável que não a consigam refazer dois ou três meses mais tarde, na rodagem. Aí, eles vão tentar recordar-se dos ensaios, mas não é isso que eu quero deles. Não se trata de fazer marcações no chão para que os actores as voltem a ocupar. Digamos que quero que o depósito esteja cheio e que, no momento certo, no cenário exacto, seja possível ligar a chave da ignição.
Alguma vez filmou com mais do que uma câmara?
Não, não creio que ter mais do que uma câmara seja importante para um filme deste género. Isso conta quando o equilíbrio da luz não é decisivo, ou quando filmamos explosões e coisas assim. Só usei duas câmaras em Jarhead, o que, curiosamente, me permitia ir dando indicações aos actores durante a filmagem.
Este é também um filme em que os lugares são importantíssimos. Será que houve também uma espécie de casting para as paisagens?
Sem dúvida. Visitei todos os lugares antes das filmagens, o que me ajudou a decidir praticamente tudo, desde o guarda-roupa até ao momento do dia em que iríamos filmar, incluindo as cores e texturas de cada ambiente. Para mim, era importante evitar os clichés do “road movie”, com aqueles planos de muito céu e de repente... olha, a Torre Eiffel! Não se tratava de mandar a segunda equipa para a estrada, dizendo-lhes para filmarem planos a partir da janela do carro em movimento. Quis encontrar imagens que condensassem aquilo que senti quando cheguei a determinado lugar. Por exemplo: Phoenix era aquela imagem do avião reflectido nas janelas de um prédio; Tucson o deserto imenso, com um carro a aparecer; Montreal a estrada com as casas de tijolo...
Há quem considere que filmes de pequena produção como Um Lugar para Viver têm cada vez mais dificuldade em chegar ao público.
Em chegar ao público, não sei. Mas é um facto que são cada vez mais difíceis de fazer. Estamos num momento complicado e sinto-me muito contente por ter sido possível fazer este filme, tanto mais que um projecto do género envolve muitos riscos para muita gente: é importante estarmos disponíveis para fazer filmes destes por pouco dinheiro e com grande rapidez. Ainda assim, os filmes que mais sofrem são os do meio, os que não são pequenos como Um Lugar para Viver nem grandes como Transformers ou Homem-Aranha. São filmes como Revolutionary Road, com estrelas, custando 50 ou 60 milhões de dólares. Este foi mais fácil porque é muito mais pequeno.
Qual foi o orçamento?
Aqui entre nós: 17 milhões de dólares.