terça-feira, novembro 17, 2009

Em conversa: Martha Wainwright (2/3)

Segunda parte da versão integral de uma entrevista que serviu de base ao artigo publicado a 9 de Novembro, com o título “Não sou uma actriz nem quero estar a recriar a Piaf”

Chamou ao primeiro álbum, a que chamou simplesmente Martha Wainwright. Porque dá tanta gente o seu nome aos seus primeiros discos?
É uma tradição na música folk. É uma maneira muito simples e directa de fazer as coisas... E também uma forma de dizer que nenhuma canção em particular é o single...

Mas teve um título forte para o seu segundo álbum... I Know You're Married But I've Got Feelings Too...
Achei que era engraçado. Algumas das minhas canções podem ser sérias e dramáticas, mas tento que nelas haja também um certo sentido de humor. E queria um título que fosse engraçado. E gostei desse.

Já tinha cantado versões, nomeadamente num tributo a Leonard Cohen tribute. Foi certamente um projecto diferente desta nova abordagem que faz às canções de Edith Piaf.
Sim, muito diferente. Foi também feito no contexto de um espectáculo e com o mesmo produtor, o Hal Wilner. Mas aprendemos umas canções e juntamo-nos com uma série de músicos e depois subimos ao palco. Foi bom estar no meio daquela gente toda, o Nick Cave a Beth Orton, os Handsome Family, o Jarvis Cocker... Foi mesmo excitante. A Piaf foi mais desafiante. E mais pessoal, no sentido que eu precisava de encontrar um caminho meu para chegar a esta música. Eu não canto como a Piaf. Nem queria soar como a Piaf. Seria mesmo impossível. Não sou uma actriz nem queria estar a recriar a Piaf. Esta ideia teve mais a ver com uma tentativa de uma cantora ver o que conseguia trazer de novo a estas canções. Não era apenas um tributo a Edith Piaf, mas também a estas mesmas canções.

Quando é que a música de Edith Piaf entrou pela primeira vez na sua vida?
Era muito miúda e foi o meu irmão quem me mostrou os discos dela. Tinha uns 7 ou 8 anos e rapidamente ela tornou-se numa das minhas cantoras preferidas. Senão mesmo a preferida... Quando era miúda ficava encantada pela intensidade da voz dela. Parecia uma coisa louca... Então cantava por cima dos discos dela, com toda a força que tinha nos pulmões... Foi por essa altura que me interessei também por cantoras que cantam com emoção...

O seu irmão homenageou recentemente Judy Garland com um outro álbum de versões. Ambos gravados ao vivo…
São discos diferentes. E mostram as diferenças entre mim e o Rufus e a própria maneira como nos vemos a nós mesmos. O disco do Rufus era muito um tributo a Judy Garland numa escala que se ajusta a ele, que é com aquela dimensão... E com os arranjos originais. Este é diferente... Escolhemos canções que não são famosas. Procurei uma abordagem moderna... Mas também foi feito ao vivo... O desafio foi também o de me por a cantar em francês. Estudei francês na escola, é verdade, mas não estou habituada a cantar em francês. E estas canções têm tantas palavras!... (risos) Chegar a estas canções não é fácil. Tal como a Judy Garland, a Piaf era uma grande cantora. E estas canções implicam um esforço físico grande... É espantoso estar a cantar estas canções.

(continua)