Um dos nomes maiores da música alemã do século XVIII, Georg Philip Telemann (1681-1767) assinou ao longo da extensa vida profissional um volume impressionante de “paixões”, composições reflectindo, como sugere a designação, sobre a paixão de Cristo. Estas dividiam-se essencialmente em dois grupos. Num deles, mais directamente relacionado com a liturgia, as composições usavam fragmentos das escrituras. Num outro, a música contava com a presença de poemas especialmente escritos para o efeito. Estas últimas obras eram frequentemente destinadas a ser apresentadas em salas de concertos, e não nas igrejas. É neste grupo que se enquadra a célebre Brockes Passion, uma das mais de 40 “paixões” que Telemann compôs em Hamburgo entrre 1716 e 1767, e que tem por base um texto de Barthold Heinrich Brocke (o mesmo que serviu também composições contemporãneas de nomes como Händel ou Mattheson. Um crítico musical da cidade chegou a chamar a esta obra uma “ópera sagrada”, tal a dimensão e eloquência da composição para solistas, coro e orquestra que Telemann revelou nesta obra de 1716. Pela Harmonia Mundi, René Jacobs dirige uma leitura espantosa, contando com a Akademie Für Alte Musik Berlin, o RIAS Kammerchor e solistas como Brigitte Christensen ou Johannes Weisser.
Outros lançamentos:
Gustav Holst (1874-1934) tinha consciência do peso sufocante que o reconhecimento global da suite Os Planetas acabou por ter sobre a sua restante obra. E a recente edição de um disco com peças orquestrais suas, pela BBC National Orchestra of Wales, dirigida por Rickard Hickox, deixa claro que há no compositor britânico toda uma obra a redescobrir. O disco reune quatro peças compostas para bailado, duas delas juntando um coro ao trabalho da orquestra. São composições de um intervalo entre 1918 e 1927, em todas reflectindo-se uma relação de Holst com os palcos, reactivando memórias por vezes esquecidas da música da primeira metade do século XX. As peças aqui reunidas provém de experiências distintas, recordando o disco relações de Holst com a ópera (em concreto as cenas de dança do seu The Perfect Fool), o treatro (The Lure) ou encomendas precisas para o palco (The Golden Goose ou The Morning Of the Year, esta última o seu primeiro trabalho para a BBC). Distante das visões e cenários de Os Planetas, outros olhares sobre uma obra que, decididamente, pode surpreender.
Mais uma intervenção discográfica da BBC, desta vez através da BBC Symphony orchestra, dirigida por Jiri Belohlávek. O disco junta dois concertos para violino e orquestra do compositor checo Josef Bohuslav Foerster (1859-1951), ambos em primeira gravação mundial nas suas versões integrais. Sem referência dominantes de uma qualquer agenda “nacionalista”, a música de Foerster procura antes uma demanda pessoal, onde não são estranhas incursões por terrenos que cedem protagonismo à espitritualidade e misticismo. O Concerto Nº 1, estreado em 1910, traduz ecos de uma reflexão sobre a construção do herói de uma ópera na qual então trabalhava e que tinha por protagonista um violinista, também compositor. O Concerto Nº 2, de 1926, expressa por sua vez o que por vezes se compara a um epílogo da mesma ópera, entretanto concluída em 1918, na forma de um poema musical. A presente gravação, editada pela Supraphon, conta com o violinista Ivan Zenay como solista.