terça-feira, dezembro 30, 2008

Os melhores de 2008: filmes

Segundo dia de listas com os melhores de 2008, hoje revisitando aqueles que foram os filmes mais marcantes do ano.

J.L.

Crise — eis a questão. Crise do consumo, com a crescente descaracterização de muitas salas, cada vez mais transformadas em meras "lojas de atracções" de grandes centros comerciais. Crise do próprio cinema, muitas vezes iludido pelas proezas do digital (recurso fascinante, entenda-se) contra as potencialidades de imagens & sons para nos fazerem repensar a nossa frágil condição humana. Crise, enfim, do número de espaços de ideias e para as ideias, contrastando com o infantilismo grosseiro — tragicamente vazio de pensamento — que caracteriza muitas formas contemporâneas de intervenção pública, em particular na Net, desde o futebol ao... cinema. E, no entanto, eles movem-se... Quem? Os filmes, sem dúvida. Dos minimalistas (quem viu o assombroso filme espanhol que é A Solidão?) aos barrocos (Paul Thomas Anderson a trilhar os caminhos abertos por mestres da época de ouro de Hollywood), passando pelos genialmente geométricos (os Coen, finalmente, sem o estigma de se mostrarem "artistas", deram-nos um objecto de inusitada sofisticação formal e filosófica). Além disso, temos os mestres que não sabem envelhecer: os agitadíssimos corações de Resnais [foto], o risonho negrume do reaparecido Skolimowski ou o sentido trágico do sempre pedagógico Lumet vieram mostrar que é um erro irmos atrás da moda da juventude, aliás, da juventude como moda. Godard o disse, uma vez: "Prefiro os velhos." Para baralhar as contas, Manoel de Oliveira fez 100 anos, ensinando-nos, afinal, a esquecer as estatísticas e a amar o cinema.

1. Corações, de Alain Resnais
2. Alexandra, de Aleksandr Sokurov
3. Destruir depois de Ler, de Joel e Ethan Coen
4. Haverá Sangue, de Paul Thomas Anderson
5. No Vale de Elah, de Paul Haggis
6. A Solidão, de Jaime Rosales
7. Quatro Noites com Anna, de Jerzy Skolimowski
8. I’m Not There, de Todd Haynes
9. Antes que o Diabo Saiba que Morreste, de Sidney Lumet
10. A Ronda da Noite, de Peter Greenaway

N.G.
.
Apesar das crises, várias, 2008 foi um ano cheio de ideias. Dos filmes que estrearam aos que passaram pela vasta programação dos diversos festivais que podemos seguir ao longo do ano, uma primeira soma de títulos sugere um retrato rápido que, todavia, aqui se não esgota. Da aceitação das mais clássicas heranças (narrativas e estéticas) à invenção de novas linguagens e soluções, de tudo um pouco. O destaque maior recai sobre um filme que traduz a lógica de fragmentação que é transversal à criação artística contemporânea e que reflecte ainda sobre a idade da divisão da atenção de quem vê pelos muitos ecrãs que encontramos pela frente. Trata-se de Fragmentos de Tracey, um claro fruto de uma cinematografia indie actual, e que conta com a música dos Broken Social Scene. Passou, contudo, a Leste das atenções. A música teve no cinema atenção especial este ano. O poético documentário sobre Patti Smith, que deverá ter estreia em sala brevemente entre nós, é exemplo de maturidade no documentarismo ligado ao universo rock’n’roll, que definitivamente ultrapassou já as armadilhas da linguagem televisiva que em tempos dominava o género. Filmes como os que Martin Scoresese e Grant Gee assinam, respectivamente, sobre os Rolling Stones e Joy Division, sublinham a ideia. O documentário, de resto, é género hoje sob a atenção quem inventa (e reinventa) o cinema. Filmes como Persepolis, de M Satrapi e V Ponnaraud ou Valsa Com Bachir, de Ari Folman (que, já mostrado em festivais, estreia esta semana entre nós), mostram como o recurso a abordagens habitualmente usadas na ficção (a animação, em concreto), revelaram este ano formas espantosas de contar o real.

1. Os Fragmentos de Tracey, de Bruce McDonald
2. Patti Smith: Dream Of Life, de Steven Sebring
3. Darjeeling Limited, de Wes Anderson
4. XXY, de Lucia Puenzo
5. Persepolis, de M Satrapi e V Ponnaraud
6. Otto, or up With Dead People, de Bruce LaBruce
7. Nós Controlamos a Noite, de James Gray
8. Valsa com Bachir, de Ari Folman
9. Wall-E, de Andre Stanron
10. Il Pranzo di Ferragosto, de Gianni di Gregorio