sábado, novembro 29, 2008

E o rock (re)aprendeu a dançar

Poucas bandas conseguiram chamar a si a admiração dos músicos e a aclamação do grande público como os New Order. A sua obra, sobretudo a que gravaram nos anos 80, é hoje aceite como uma das cartilhas de referência da música pop. De resto, não é difícil, ao caminhar entre muitas bandas pop/rock da actualidade, tropeçar entre referências evidentes à memória de 80 dos New Order. É todo esse corpo de canções, editado entre 1981 e 1989, que agora surge numa série de cinco reedições, todas elas em formato de CD duplo, com booklets com novos textos e faixas extras (recuperando lados B de singles, versões longas e remisturas). O conjunto de reedições que agora chega aos escaparates – Movement (1981), Power Corruption and Lies (1983), Low Life (1985), Brotherhood (1986) e Technique (1989) – conta-nos, sobretudo, "a" história da redescoberta do prazer da dança por uma banda nascida no clima sombrio da Inglaterra de finais de 70. Ou, para ser mais preciso, a obra que reflecte como a cultura da música de dança que agitava a Nova Iorque de inícios de 80 chegou à música pop deste lado do Atlântico, gerando uma verdadeira revolução.

O primeiro single dos New Order, todavia, nada fazia antever a agitação que se seguiria. Editado em Março de 1981, Ceremony, assim como o lado B In a Lonely Place, não era mais que uma continuação directa do trabalho com os Joy Division, de cujas cinzas os New Order então nasciam, juntando aos três "sobreviventes" da banda cessante a presença (nas teclas) de Gillian Gilbert. Os temas do single foram ainda compostos com Ian Curtis, surgindo em disco já na voz de Bernard Sumner. Em Novembro, o primeiro álbum, Movement, era a evolução directa da etapa final dos Joy Division, em canções assombradas, mas ainda hoje estranhamente cativantes. O verdadeiro nascimento dos New Order chega como consequência de uma viagem a Nova Iorque, em finais de 1981. É nas discotecas mais entusiasmantes da Big Apple que se deixam encantar pela nova música de dança. O italo disco, o electro, o hi-nrg. Sons que assimilam, cruzam com a sua identidade pop... E a revolução não tardou.
Singles como Everything's Gone Green, Temptation e, depois, o "clássico" Blue Monday mudam, literalmente da noite para o dia, a relação de uma multidão de músicos (e seus admiradores), nascidos em clima urbano e cinzento, com o prazer da música de dança. A obra dos New Order ganhou depois verdadeiro fôlego com a relação que a sua editora (a Factory Records) e os próprios músicos foram criando com a Hacienda, discoteca que faria de Manchester (a cidade-berço da banda) uma capital de acontecimentos na história da música de dança (sobretudo em finais da década de 80).
PS. Versão editada de texto publicado no DN a 27 de Novembro




O teledisco de Fine Time é talvez dos menos evocados entre a obra dos New Order. A canção, editada há precisamente 20 anos, foi usada como single de avanço para o álbum Technique, que seria editado já em 1989. Fine Time é o single em que os New Order reflectem directamente sobre o som da revolução house e acid house que fazia a agenda da novidade entre 1987 e 88. Para uma banda tão intimamente ligada à história recente da música de dança, os novos sons não poderiam passar a Leste das suas atenções.