sábado, novembro 29, 2008

Cristiano Ronaldo: ser e não ser

Que significa estar no centro do turbilhão mediáti-co? Como ser Cristiano Ronaldo? — este texto foi publicado no Diário de Notícias (28 de Novembro), com o título 'Quem é Ronaldo?'.

Na noite de domingo para segunda-feira, nos seus comentários sobre a actualidade futebo-lística, Rui Santos (SIC Notícias) manifestou algumas reticências em relação ao comportamento desportivo de Cristiano Ronaldo na selecção. Em particular, chamou a atenção para aquilo que qualquer espectador de futebol minimamente atento já há muito tinha constatado: Cristiano Ronaldo é um jogador excelente no Manchester United, mas na selecção portuguesa tornou-se uma peça banal de uma generalizada banalidade.
Repare-se: o que gostaria de sublinhar não é tanto a leitura negativa das performances da selecção, afinal sempre sujeitas a legítimas variações subjectivas (por mim, sou dos que consideram que a qualidade da equipa se degradou de forma drástica durante todo o consulado de Luís Filipe Scolari). A questão, aqui, é de outra natureza. Trata-se de acentuar o salutar sentido crítico de uma intervenção que contraria os chavões televisivos e nos leva a reflectir sobre o sistemático empolamento da figura de Cristiano Ronaldo, muito para além das suas evidentes qualidades como jogador.
Tem-se assistido, de facto, a uma verdadeira campanha de “santificação” de Cristiano Ronaldo. É natural que um jogador tão dotado suscite muitos entusiasmos, quanto mais não seja porque ainda é possível gostar do futebol pelo futebol, sem primarismos clubistas ou nacionalistas. O certo é que a corrente fabricação do “mito” Ronaldo promove um trágico vazio de ideias e valores, a não ser esse, deprimente entre todos, de querer que ele seja eleito melhor do mundo “à força”... Repare-se também: não será escândalo para ninguém que ele ganhe esse título. O certo é que os seus “apoiantes”, de tão militantes e insistentes, conseguiram esvaziar de significado aquilo que deveria ser um reconhecimento natural, não o resultado de campanhas de angariação de “votos”.
Creio que Rui Santos fez muito bem em denunciar um ídolo com pés de barro. Esta adulação simplista, para mais “impondo” Cristiano Ronaldo ao público adolescente, está a minar o espaço mediático e, muito em particular, a “vender” aos mais jovens uma visão superficial, caricatural e demagógica do sucesso individual.