quinta-feira, maio 31, 2007

Editores de DVD... que andam a fazer?

1. Eis um problema que se arrasta: algumas formas de divulgação dos filmes, nomeadamente dos filmes em DVD, são de uma pobreza quase ofensiva.
2. De que estou a falar? De algumas informações (?) que, por vezes, chegam aos jornalistas, dando conta, por exemplo, de um novo lançamento de DVD.
3. Não quero fulanizar a questão, mesmo se é verdade que há pessoas a trabalhar no meio que não têm qualquer formação especificamente cinematográfica. Nem pretendo sugerir que há empresas "boas" e empresas "más" (por vezes, na mesma empresa encontramos a competência a conviver com a mais básica incapacidade de fazer valer o produto que, supostamente, se quer divulgar, eventualmente vender).
4. Cada vez com mais frequência, há dossiers (??) informativos como aquele que recebi há pouco tempo: uma mera frase (segue "informação relativa a...") e, em anexo, um quadro de títulos. Era de alguma empresa "de vão de escada", ainda a tentar impor-se no mercado?... Não, era de uma grande, enorme, gigantesca multinacional, com negócios de muitos biliões em todo o planeta.
5. Que títulos, então? Apenas os portugueses. O que pode corresponder a coisas como "Um Aventureiro em Bolandas" ou "Hard Guy: o Regresso" (estou a inventar, ma non troppo...). Títulos originais? Nada. Datas de produção? Uma em cada vinte filmes. Actores? Que interessa?
6. Que fazer? Por mim, considero, cada vez mais, que importa dar a conhecer esta situação aos leitores/consumidores. É importante que eles compreendam que os jornalistas podem ter mais ou menos talento, mas não são adivinhos da informação que (não) lhes são. Já me aconteceu (e a diversas pessoas que me deram conta da mesma experiência) descobrir por mero acidente que há grandes maravilhas — actuais ou clássicas — editadas em DVD: percorro os expositores de uma loja e deparo com espantosos filmes sobre cuja edição foram distribuídas informações equivalentes a... zero!!!
7. Vale a pena, por isso, perguntar aos editores de DVD o que pensam do seu próprio trabalho de divulgação? Individualmente e em conjunto, como encaram as suas relações (???) com a comunicação social? Ou será que há quem pense que as relações profissionais entre empresas e jornalistas são um "favor" que ambas as partes podem contornar? Pela minha parte, quero ser muito claro: informações como algumas que vão chegando não são apenas jornalisticamente inúteis — são também uma prova de menosprezo pelos consumidores.

Patilhas, calças boca de sino e... pop

Aqui fica um promissor aperitivo para o segundo álbum dos norte-americanos Scissors For Lefty. Dois dos músicos são filhos de uma estrela pop malaia dos anos 60... Gostam de The Cure e outros nomes das colheitas indie de 80 (nada de novo aí, é certo). E ao escolher um ambiente para o teledisco de Ghetto Ways, apontaram a mira à memória das séries policiais dos anos 70. A canção, por seu lado, deixa vontade de ouvir Underhanded Romance, álbum a editar globalmente na segunda feira, via Rough Trade.

Divine Comedy com Andy Partridge

Os Divine Comedy começaram já a trabalhar num novo álbum de originais que, para já, se apresenta com o título de trabalho 11 Modern Antiquities. A grande novidade do disco é a presença, como co-autor de alguns dos temas, de Andy Partridge (o histórico líder dos XTC).

Manson fala sobre Columbine

No momento de falar sobre um novo álbum (a editar na próxima semana), e perante a repetição recente de cenários semelhantes, Marilyn Manson voltou a ser questionado, em entrevistas, sobre o massacre no liceu de Columbine, em 1999. Nada a que não esteja já habituado. De resto, da única vez que falei, cara a cara, com o músico, pouco mais de um ano volvido sobre os acontecimentos, o assunto veio à conversa, com respostas prontas e objectivas. Recorde-se que, nesse dia dois alunos da escola, Dylan Klebold e Eric Harris, assassinaram uma série de colegas, antes de se suicidar. O olhar acusador foi então apontado a Marilyn Manson, cuja música foi tomada por alguns como factor causador da tragédia. Em entrevista, publicada no “amarelinho” DNmais, Marilyn Manson dizia-me, sobre o assunto: “Decidi ser o vilão, porque tento propor uma nova opinião. (...) Mas, como aconteceu com o desastre na escola de Columbine, onde me atacaram por algo ao qual não estava associado, foram os media quem na realidade criou o caso. Havia quem quisesse ser ouvido e os media deram-lhes espaço. Por isso nem respondi, não ripostei. Essa não era uma batalha minha. Esta outra situação com os políticos [referia-se à polémica gerada pela capa de Holy Wood e a uma campanha então lançada pela mulher de Dick Cheney] já é outra coisa. Essa sim, é a minha guerra. E, aí, ataco”.
Sete anos depois, desta vez, para a estação inglesa de televisão, ITV, Manson afirmou: “Senti sempre que não tinha culpa nem que tenha feito algo errado. E desprezo as pessoas que me acusaram na altura. O meu nome, por si só, é como uma tomada de posição sobre exactamente aquilo pelo qual me estavam a acusar...”. E acrescentou: “Hoje até me sinto enganado se não se fala do meu nome quando se refere Columbine porque, na altura, passei por tantos tormentos emocionais e pessoais perante tamanha concentração de esforços para me destruir”. A rematar: “Ninguém pode clamar por créditos ou assumir responsabilidade por aquilo pelo qual fui acusado. E eu próprio não quero assumir responsabilidade porque, de certa maneira, já o fiz...”

Bruce ao vivo

Está a chegar um novo álbum de Bruce Springsteen — é uma gravação ao vivo, chama-se Live in Dublin e estará disponível a partir de segunda-feira, dia 4. Já é possível escutar todos os temas (e ver um deles), muitos saídos do registo anterior, We Shall Overcome: The Seeger Sessions (fabulosa antologia de covers de Pete Seeger). Também na página da Amazon americana, podem ver-se extractos do espectáculo que está na base de Live in Dublin.

quarta-feira, maio 30, 2007

2007: Odisseia... Strokes

O clássico 2001: Odisseia no Espaço, de Kubrick, continua a ser uma das mais vivas forças de inspiração para novas experiências. Eis uma versão alternativa para You Only Live Once, terceiro single extraído do álbum do ano passado First Impressions Of Earth, dos Strokes. Solução com tempero 2001 para uma "curta" pós-apocalíptica. Magnífico teledisco!

terça-feira, maio 29, 2007

David Sylvian pela Europa

David Sylvian está de regresso à estrada. Desta feita, para uma digressão mundial, da qual, para já, estão apenas reveladas as 16 primeiras datas, todas elas em salas europeias, a partir de 7 de Setembro. A digressão terá por título The World Is Everything Tour e é uma aventura a solo de David Sylvian, que assim se afasta (crê-se que apenas temporariamente) do colectivo Nine Horses, através do qual editou um soberbo álbum e um igualmente recomendável EP. Nos últimos meses, David Sylvian dedicou parte do seu tempo criativo à composição de uma obra encomendada pelaNaoshima Fukutake Art Museum Foundation, com vista à programação do festival Standard 2, que terá lugar a 6 de Julho. Esta obra será depois levada a disco pela própria editora de Sylvian, a samadhisound, numa edição limitada que deverá surgir nas lojas nos próximos meses (não haverá lançamento para download). Para a gravação desta peça, Sylvian contou com um ensemble no qual estavam integrados os músicos Clive Bell, Christian Fennesz, Arve Henriksen e Akira Rabelais.

Para os interessados em viajar em Setembro, com Sylvian no destino, aqui ficam as datas já confirmadas desta sua nova digressão:

Dia 7 - Estocolmo - China Theatre
Dia 8 - Oslo - Sentrum Centre
Dia 9 - Copenhaga - Royal Theatre
Dia 12 - Dublin - Vicar Street
Dia 14 - Manchester - Bridgewater Hall
Dia 15 - Glasgow - Royal Concert Hall
Dia 17 - Londres - Royal Festival Hall
Dia 18 - Birmingham - Symphony Hall
Dia 20 - Bruxela - AB
Dia 21 - Paris - La Cigale
Dia 23 - Milão - Conservatorio Sala Verdi
Dia 24 - Reggio Emilia - Teatro Valli
Dia 26 - Treviso - Teatro Accademia
Dia 27 - Roma - Auditorium Della Conciliasione
Dia 29 - Turim - Teatro Colosseo

Canções pop por Joana d'Arc

Está finalmente disponível no mercado, embora sem lançamento previsto para Portugal, a reedição do clássico Architecture & Morality, álbum de 1981 dos Orchestral Manouevers In The Dark. A banda, de Liverpool, representou uma das primeiras forças de primeira linha da primeira geração pop electrónica na Inglaterra de finais de 70. O seu single de estreia, Electricity (em 1979) foi o sexto editado pela Factory Records. Contudo, a carreira dos OMD (assim acabaram conhecidos) fez-se depois, essencialmente, na Dindisc, uma pequena editora sob distribuição da Virgin Records. Os seus dois primeiros álbuns, Orchestral Manouevers In The Dark e Organization, ambos editados em 1980, lançaram pistas e primeiros sinais de uma vida dupla, tranquilamente dividida entre gosto em criar hinos pop e a curiosidade pelas potencialidades das novas ferramentas ao serviço da música electrónica. E não houve álbuns tão capazes de expressar essa dupla vida como o magnífico Dazzle Ships, de 1983, e Architecture & Morality, de 1981, o disco que agora regressa aos escaparates em edição recheada de extras e justificou o reencontro da banda em palco, numa digressão, encetada há poucos dias, na qual estão a tocar este álbum, de fio a pavio.


O título do álbum encerra, por si só, um programa de intenções, como que querendo mostrar como se concilia o que aparentava ser inconciliável. O rigor matemático da electrónica e a sede de descoberta, aleatória, da criação artística. Menos sombrios que contemporâneos como os Cabaret Voltaire ou John Foxx, menos efusivos que os Human League (reinventados em versão 2.0 para Dare!), A Flock Of Seagulls ou Depeche Mode), menos “teatrais” que os Soft Cell ou Fad Gadget, os OMD pareciam viver numa terra de ninguém, não equidistante das linhas mestras da pop electrónica em erupção, mas orientados segundo um gosto peculiar que, no texto que acompanha a presente “collectors edition”, o jornalista Paul Morley descreve como o que poderia ser o futuro da Joy Division, “caso Love Will Tear Us Apart” tivesse sido o começo e não o fim”. O álbum destaca-se dos muitos que essa geração pop então apresentou, propondo uma sugestão temática em torno de um ciclo de canções com uma figura (e sua simbologia) como protagonista: Joana d’Arc. Um fascínio pela mulher, a sua história, a relação com a fé e religião, traduz-se numa visão que não é de reflexão histórica, mas de recontextualização da sua imagem e heranças num futuro sem data. E mesmo aí, mais que um retrato concreto, optam por uma visão impressionista que, da história, herda sobretudo sugestões de uma vida armadilhada por um sentido de dever ditado mais pela emoção que pela razão.

Este não é o álbum de pop electrónica “típico” do seu tempo, sobretudo numa banda que gozava já de uma certa visibilidade mainstream, tendo já colhido primeiros êxitos, em 1980, com Messages e Enola Gay e que conseguiu depois levar os três singles extraídos deste Architecture & Morality (sucessivamente Souvenir, Joan of Arc e Maid Of Orleans, ao top five britânico). Canções e instrumentais texturalmente ricos em figuras nascidas de uma exaustiva exploração das potencialidades do mellotron e técnicas de estúdio empregando o uso de fitas (muito em voga na música concreta e junto de bandas de rock progressivo nos anos 70) fazem um álbum que traduz o seu tempo. Mas que, como poucos da sua geração, sobrevivem quase 30 anos depois, da primeira à última faixa. O melhor dos OMD, antes da sedução definitiva pelos “prazeres” mainstream, que os tomaram depois de 1984.




O alinhamento que a actual edição propõe junta às canções do álbum original os lados B dos singles dele extraídos, bem como o single abortado Gravity Never Failed e dois outros temas em forma incompleta, depois transformados e incluídos no álbum seguinte (The Romance Of The Telescope e Of All The Things We’vre Made). Como extra surge ainda um DVD com os telediscos de Souvenir e Maid of Orleans, uma actuação no Top Of The Pops (na qual tocam, ao vivo, Joan Of Arc) e ainda a gravação de um concerto, de 1981, no Theatre Royal. A capa, de Peter Saville, surge na sua versão original, em amarelo.

segunda-feira, maio 28, 2007

Like a japanese

A campanha de Brillia Mare Ariake (complexo de apartamentos em Tóquio) começou com o spot Beyond Borders. Surge, agora, o segundo spot, Think Family, ainda protagonizado pela mesma Japanese Girl. Diz ela:

Family is everything
Family comes first
It's not what I expected it to be
Nothing ever is
Just perfect


Discos da semana, 28 de Maio

Algumas das mais recentes edições e lançamentos locais, numa perspectiva crítica:

Os irmãos Olof e Karin Dreijer são hoje um dos mais inspirados e respeitados pólos de invenção musical na mui activa Suécia pop. Com carreira desde 1999, e dois álbums de primeiro plano na sua discografia (The Knife, de 2001 e Silent Shout, de 2006, respectivamente o primeiro e terceiro dos seus discos), cedo mostraram que não eram apenas mais um duo de pop electrónica. Nos primeiros tempos, com orçamentos menos abonados, concentraram na realização de telediscos de baixo custo mas de grandes ideias a expressão de uma complementaridade entre som e imagem que, hoje, neles é indiscutível. Foi, contudo, preciso esperar pela maioridade da sua música e pela aclamação global de Silent Shout (de facto um dos melhores discos de 2006) para que pudessem levar para a estrada, sem ter de voltar a casa e ter de lavar pratos para pagar as contas, uma ideia de música e som pensada finalmente como um todo. E Silent Shout: An Audiovisual Experience não é mais que o documento dessa odisseia com final feliz. Concerto multimedia (na sua expressão literal), uma actuação dos The Knife durante a digressão de 2006 (que passou por Barcelona, no Sonar) revelava, um pouco como os Kraftwerk nos concertos que vimos no Coliseu e Sudoeste, como música e imagem podem existir como parte de um todo que não dispensa a ausência de qualquer das partes. Sem aparato hi-tech, focando os meios apenas na necessidade de atingir os fins em questão, o concerto é uma experiência que dá corpo e cenário a uma música que, agora compreendemos, os esperava. Uma música que recordamos, num alinhamento onde as canções de Silent Shout são protagonistas, no CD áudio que agora acompanha este “pacote” CD + DVD. O DVD, por seu lado, acrescenta ao documento visual do concerto o arquivo de telediscos dos The Knife, no qual observamos o percurso evolutivo desde os dias das ideias grandes para contas pequenas (no genial I Take Time) até aos pequenos pedaços de filigrana de pós produção e mais requintada cenografia de um Marble House. Um complemento fundamental para quem gostou de Silent Shout.
The Knife
“Silent Shout: An Audiovisual Experience”

V2 / Edel
5/5
Para ouvir: MySpace


Mark E Smith é o veterano de maior longevidade, mais regular actividade e mais recorrentes grandes feitos (leia-se bons discos) entre os “mestres” que Manchester revelou na segunda metade da década de 70. Através dos The Fall (nome que cada vez mais é um sinónimo de si mesmo) definiu rotas e destinos de uma personalidade muito peculiar. A este tronco estrutural, o músico sempre juntou, com o entusiasmo de que encara um novo desafio, o prazer da transgressão através de colaborações que, muitas vezes, aparentam ser coisa distante das suas águas mas que, mais dia, menos dia, acabam por ter repercussão mutante no seu próprio genoma. Eis-nos perante novo episódio que pode bem representar um estímulo com mais futuro até que aquilo que agora se nos apresenta em disco. Andi Toma e Jan St Wener (dos Mouse On Mars) convidaram Mark E Smith a um projecto comum. Estávamos em 2005, o ano em que os The Fall editavam em Fall Heads Roll o seu melhor álbum em largos anos e Mark E Smith surgia ao lado dos alemães no máxi Wipe That Sound. Gostaram, resolveram continuar e, mesmo, apresentar-se como banda. Chamaram-lhe Von Sudenfed e eis que se materializa num álbum onde personalidades a principio colidem mas, aos poucos, encontram um patamar de entendimento comum. O contexto musical é ditado pelos alemães, que entram em cena de ferramentas electrónicas nas mãos, alternando entre pistas electro, um disco de travo industrial, por vezes quase formas próximas do dub step. O protagonismo é, todavia, roubado pela atitude vocal (inconfundível) e as palavras cortantes, ásperas, de Mark E Smith que aqui revela uma ira inconformada como há muito lhe não conhecíamos. O resultado é uma das mais intrigantes, mas contagiantes, operações de diálogo entre formas e gerações dos últimos tempos. Punk digital. Um disco de digestão pouco fácil, abrasivo, mas que promete cenas dos próximos capítulos, uma vez que um segundo álbum e uma digressão de apoio ao primeiro estão já em agenda. Boas notícias.
Von Sudenfed
“Tromatic Reflexxions”
Domino / Edel
4/5
Para ouvir: MySpace


Ao contrário do filão new wave, em vias de extinção, a vasta planície da folk continua a gerar boas sugestões e, regularmente, oferece-nos espantosas revelações. A mais recente, ao ouvido europeu, chama-se Lavender Diamond. São californianos, com discreta carreira de palcos e discos (essencialmente singles em edição de autor) desde 2003, mas cuja recente internacionalização através do soberbo EP The Cavalry Of Light tudo mudou. Genuínas almas da melhor tradição peace and love (apresenta-se de resto, como “the original sound of love”), os Lavander Diamond são, mais que apenas uma banda de músicos, um conjunto de artistas com preocupações reveladas sob várias formas de expressão (dentro do grande universo das artes performativas). Depois de vários discos de discreta projecção, o EP mundialmente editado há poucos meses revelou neles uma vitalidade pop herdeira de velhas manifestações, também californianas, do expressivo movimento pop folk de finais de 60 que teve como mais visíveis rostos as canções dos Mamas and The Papas. Porém, a pop é apenas uma identidade subliminar (embora marcante) nas entrelinhas de uma música que procura mais um sentido de liberdade e utopia teatral que, por vezes, ecoa memórias de Kate Bush. O sentido de dramaticidade que a vocalista Becky Stark lança sobre pequenos cenários feitos de discretas e doces melodias (onde por vezes cordas e metais compõe pequenas sinfonias de brinquedo) acaba mesmo por ser a marca de identidade mais recorrente ao longo de um álbum que, mesmo sem repetir nunca a excelência invulgar de canções como You Broke My Heart ou Rise In The Springtime, é já uma das estreias do ano.
Lavender Diamond
“Imagine Our Love”

Rough Trade / Edel
4/5
Para ouvir: MySpace


Os Black Rebel Motorcycle Club (ou B.R.M.C., como habitualmente são tratados) devem ser uma das maiores promessas menos bem cumpridas dos últimos anos. Quando surgiram, em 2000, com o espantoso Black Rebel Motorcycle Club, ainda a fornada “novo rock” pós-Strokes estava na creche, mostravam sinais de revigorante reencontro com importantes pistas do rock alternativo de 80, sem esconder uma franca relação de reverência para com a obra dos “mestres” The Jesus & Mary Chain. Seguiu-se, em 2003, segundo álbum de gestão na continuidade, em satisfatório. E, em 2005, Howl, um terceiro disco, com agradáveis sinais de reinvenção via assimilação de inesperados estímulos blusey, acústicos, via Zeppelin e afins... Ao quarto disco, contudo, não só dão este último dito como não dito, como regressam à estaca dois, repetindo a dose, mas sem a surpresa da estreia nem a competência que ainda haviam mostrado em Take Them On, On Your Own. Baby 81 é mais negro (ou sombrio), mais eléctrico, mais intenso, mais textural que nas abordagens directas do álbum de estreia. Mas, no fim, mais do mesmo, num conjunto de canções que não vencem uma linha de água mediana, apesar dos muitos altos e baixos, mas com único episódio digno de nos roubar tempo no épico e consistente Am I Only, que quase parece o elo perdido entre Howl e as memórias do primeiro disco da banda, filão que, devidamente explorado, poderia ter gerado um álbum bem mais interessante. Não se trata de um álbum incompetente nem trágico. Mas para quem prometia mundos e fundos, é um disco que revela como sair na pole position não garante vitória na corrida. Perderam muito tempo nas boxes e já vão com umas valentes voltas de atraso.
Black Rebel Motorcycle Club
“Baby 81”

Island / Universal
2/5
Para ouvir: MySpace


A profusão de bandas que saltam, quais cogumelos, da floresta rock’n’roll, facção som do primo mais velho, começa a dar sinais de evidente fim de ciclo. Sinais que se manifestam pelas terceiras e quartas vagas de bandas assinadas e álbuns editados, mais não fazendo que repetir e insistir no que já se ouviu, revelando dolorosos calcanhares de Aquiles quando, na hora de tentar expressar individualidade, apostam na revisitação errada, na citação equívoca. É o que se passa com os Cinematics. São escoceses, formados em 2003 sob evidentes estímulos encontrados em bandas como os Interpol ou Strokes e nas memórias dos The Cure ou Echo & The Bunnymen. Andaram na estrada com os Editors. E chamaram Stephen Hague para lhes produzir o primeiro single. Agora chega-nos o álbum. Banal, inconsequente, repetitivo, ensopado em chavões de negritude roqueira loja dos 300. E com recorrente tempero retro (nos oitentas, claro, porque parece que mais nada existe), apontado... aos The Mission, a menos estimulante das bandas de “referência” do som gótico. Uma perfeita perda de tempo, salvo para quem quer, uma vez mais, escutar um disco ou dançar frente a um palco, fingindo que acabou de sair de uma máquina do tempo com ponteiro apontado a 1987... Só que chegou à hora da banda de abertura do concerto. E não é coisa que valha muito a pena...
The Cinematics
“A Strange Education”
TVT / Edel
1/5
Para ouvir: MySpace

Também esta semana: Clash (caixa), Jeff Buckley (best of), Richard Thompson, Tiga (remisturas), The Bravery, R Foster/G McLennan (best of das gravações a solo), Trademark

Brevemente:
4 de Junho: Suzanne Vega, Perry Farrell, Paul McCartney, Bonde do Rolé, Marvin Gaye (reedição), Bruce Springsteen (live), Nick Lowe, Keren Ann, Junior Boys (EP), Blanche, Sons da Fala
10 de Junho: Calvin Harris, Digitalism, Van Morrisson (best of), Queens of The Stone Age, Orbital (live), Travelling Wilburys, Amina, Scissors For Lefty
18 de Junho: White Stripes, Mute Audiodocuments (caixa de 10 CD), Nick Drake (best of), Amina, Simian Mobile Disco

Junho: Spiritualized, Bryan Ferry (DVD), Marilyn Manson, Jorge Palma, David Bowie (DVD), Marc Almond (ed local), Frank Black, Clinic, Editors, Ryan Adams, Komputer
Julho: Interpol, Blondie (reedição), Crowded House, Chemical Brothers


Estas datas podem ser alteradas a todo o momento

Discos Voadores, 26 de Maio

A edição de um novo álbum dos Blonde Redhead serve de mote para um olhar panorâmico sobre a actual 4AD.

Rufus Wainwright "Do I Disapoint You"
Bill Callahan "From The Rivers To The Ocean"
Papercuts "John Brown"
The National "Slow Show"
David Vandervelde "Feet Of A Lion"
Azure Ray "If You Fall"
Blonde Redhead "Top Ranking"
Lavender Diamond "You Broke My Heart"
Wraygunn "Hoola Hoop Woman"
Electrelane "Tram 21"
Au Revoir Simone "A Violent Yet Flammable World"
Sylvia Hallett "One More Holiday"
Of Montreal "Heidalsgate Like A Promethean Curse"
Woman In Panic "A Faorest"

Morgan Geist "Most Of All"
Balla "Saltei de Mim"
Scott Matthew "Surgery"
Blonde Redhead "Silently"
Blonde Redhead "23"
Blonde Redhead "Spring And By Summer Fall"
Blonde Redhead "In Particular"
Sonic Youth "Bull In The Heather"
My Bloody Valentine "Off Your Face"
Blonde Redhead "Slogan"
Magnetophone "And May Your Last Words Be A Chance To make Things Better"
Minotaur Scock "(She's in) Dry Duck Now"
Celebration "Diamonds"
M Ward "To Go Home"
Blind Zero "April Skies"

Discos Voadores - Sábado 18.00 / Domingo 22.00
Radar 97.8 FM
ou www.radarlisboa.fm

domingo, maio 27, 2007

Postal de Cannes, 27 de Maio de 2007 (10)



4 Semanas, 3 Meses e 2 Dias

de Cristian Mungiu (Roménia)

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Digamos que custa ver Alexander Sokurov (Alexandra) e David Fincher (Zodíaco) fora do palmarés da 60ª edição do Festival de Cannes. Em todo o caso, importa tambem sublinhar que o júri presidido por Stephen Frears conseguiu encontrar algum equilóbrio na diversidade — e, sobretudo, sublinhando essa diversidade. O filme japonês La Foret de Mogari, de Naomi Kawase, recebeu o Grande Prémio, tendo Gus Van Sant (Paranoid Park) sido escolhido para a consagração com o Prémio especial da 60ª edição do certame. Konstantin Lavronenko, em Izgnanie, de Andrei Zviaguintsev (Rússsia), foi eleito o melhor actor, sendo o prémio de interpretação feminina para Jeon Do-Yeon, em Secret Sunshine, de Lee Chang-Dong (Coreia do Sul) — ao apresentar este prémio, Alain Delon criou o momento mais comovente da noite, pedindo 25 segundos de palmas para Romy Schneider: depois de amanhã, dia 29 de Maio, passam 25 anos sobre a sua morte.

Postal de Cannes, 27 de Maio de 2007 (9)

Os olhos de Alexander Litvinenko, ex-agente do FBS (ex-KGB) que viveu cinco anos no exílio, acabando por ser assassinado, em Londres, por envenenamento com Plutónio-210 — o filme Rebellion, L'Affaire Litvinenko, de Andrei Nekrasov e Olga Kolskaya, foi uma entrada de última hora na selecção oficial, extra-competição.

Postal de Cannes, 27 de Maio de 2007 (8)

Marlon Brando no tempo de Há Lodo no Cais — foi recordado através do documentário Brando, de Leslie Greif e Mimi Freedman.

Postal de Cannes, 27 de Maio de 2007 (7)

Gabe Nevins em Paranoid Park, de Gus Van Sant — o real é uma coisa infinitamente inquietante.

Postal de Cannes, 27 de Maio de 2007 (6)

Michael Moore enfrenta os fotógrafos. Ou os fotógrafos enfrentam Michael Moore?...


Postal de Cannes, 27 de Maio de 2007 (5)

Dia 19, no topo da passadeira vermelha — parecem os U2, e são mesmo! (duas canções para promover o filme U2 3D).

Postal de Cannes, 27 de Maio de 2007 (4)

Angelina Jolie e Brad Pitt, dia 21, na entrada para a sessão de gala de A Mighty Heart — uma estrela de costas ainda é uma estrela.

Postal de Cannes, 27 de Maio de 2007 (3)

A multidão propriamente dita (aqui, logo na abertura, dia 16).


Postal de Cannes, 27 de Maio de 2007 (2)

A equipa de Ocean's Thirteen a cumprir os rituais da passadeira vermelha (dia 24): para a multidão em frente do Palácio, foi o momento mais delirante de todo o festival.

Postal de Cannes, 27 de Maio de 2007 (1)

Vale a pena lembrar algumas imagens desta 60ª edição do Festival de Cannes, começando pelo cartaz da secção "Un Certain Regard": uma bela colagem do imaginário cinematográfico com o território da BD.

sábado, maio 26, 2007

Postal de Cannes, 26 de Maio de 2007

Amanhã, domingo, o júri presidido por Stephen Frears, vai anunciar o palmarés referente à 60ª edição do Festival de Cannes [aqui, na companhia de Martin Scorsese, protagonista da "Leçon de cinéma"]. Como sempre, as especulações sao muitas e, como sempre também, há quem "saiba" por informações mais ou menos seguras que o filme X ou Y vai ter um prémio — obviamente, as informações seguras desmentem-se umas às outras...
O final da competição nao foi especialmente feliz. O derradeiro filme — "Promise Me This", de Emir Kusturica — foi mais um objecto de "corta-e-cola", renovando a sensação de que há muito boa gente que anda apenas a reciclar os efeitos mais superficiais da sua própria obra.
Em termos meramente subjectivos (e, portanto, sem aquela ilusão pueril segundo a qual o júri se devera sentir "obrigado" a premiar os títulos eleitos pelo escriba de serviço...), destaco os quatro filmes que mais me tocaram (por ordem de apresentação):
- 4 MESES, 3 SEMANAS E 2 DIAS, de Christian Mungiu: sem dúvida a grande revelação deste certame, uma produção romena que escolhe a via difícil, mas empolgante, de um realismo austero e intransigente.
- ZODIACO, de David Fincher: "apenas" a confirmação de que o autor de Clube de Combate é um dos mais brilhantes criadores de uma "nova vaga" made in USA em que a ousadia experimental vai a par da cuidadosa preservação de muitos valores da narrativa clássica.
- PARANOID PARK, de Gus Van Sant: um prolongamento metódico, mas nada copista, dos pressupostos temáticos e formais de Elephant, prosseguindo uma admirável arqueologia intimista da juventude americana.
- ALEXANDRA, de Alexander Sukorov: mais um exemplo genial de uma obra que possui a Mãe-Russia no seu centro, viajando com intensa comoção pelo seus lugares concretos e imaginários, suas alegrias e tragédias.
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* Uma sugestão: visitar o Cannes 2007, site não oficial com o balanço de todo o festival, em todas as secções (incluindo a Quinzena e a Semana da Crítica).

John Wayne: 100 anos

Chamava-se Marion Robert Morrison, mas ficou para a história como John Wayne — nasceu a 26 de Maio de 1907, faz hoje 100 anos. Herói emblemático de alguns clássicos absolutos da história do cinema americano (citemos apenas o caso lendário de The Searchers/A Desaparecida, dirigido em 1956 por John Ford — imagem do genérico), ficou como a referência lendária e controversa de um entendimento primitivo da América e dos seus fundamentos mitológicos. Um século depois, vale a pena não esquecer que foi um caso raro de uma relação natural com a câmara — sendo, aqui, o natural algo de elaborado, complexo, fascinante e subtilmente teatral.

Postal de Cannes, 25 de Maio de 2007

Decididamente, a "provocação-pela-provocação" já deu o que tinha a dar... Assim se percebe através de Une Vieille Maitresse, de Catherine Breillat (Romance), agora num registo de filme de época (?) supostamente provocador e perversamente erotizado. Faz pensar numa telenovela "ousada", em que as cenas de nu não servem para nada, a não ser para mostrar que somos todos muito "descomplexados"... de facto, não somos e o cinema é algo de infinitamente mais complexo. Pelo mesmo caminho vai L'Age des Tenebres, de Denys Arcand, guardado para o encerramento oficial do festival, mas já mostrado à imprensa: ou como autor canadiano, autor de O Declinio do Imperio Americano, se limita a copiar as suas próprias variações sobre a "crise-de-meia-idade", cada vez mais enquistado num inglório primarismo formal e temático.
Muito consistente é o filme que a Fundação Gulbenkian (no âmbito das comemorações do seu 50º aniversário) encomendou a seis realizadores de todo o mundo. Chama-se O Estado do Mundo, passou na Quinzena dos Realizadores, e reúne curtas-metragens de Chantal Akerman (Bélgica), Apichatpong Weerasethakul (Tailândia), Vicente Ferraz (Brasil), Ayisha Abraham (Índia),Wang Bing (China) e Pedro Costa (Portugal). Cada um deles filmou uma situação que, na sua óptica, reflectisse, precisamente, o estado do mundo em que vivemos. Embora com resultados desiguais, todos encontraram situações fortes, como por exemplo o ambiente noturno de Shangai por Akerman [foto], as memórias da China maoista por Bing, ou ainda essa espécie de prolongamento simbólico e assombrado de Juventude em Marcha, de Pedro Costa (que esteve em Cannes ha um ano), no episódio intitulado Tarrafal [foto]. Apesar da sua condição oficial, é um filme que faz (ou fará?) todo o sentido exibir numa sala comercial, sobretudo se em torno dele se souber gerar a atenção que merece. Esperemos que tal aconteça.

sexta-feira, maio 25, 2007

Há 30 anos, numa galáxia distante...

Ninguém imaginava, há 30 anos, que a frase "há muito tempo, numa galáxia muito, muito distante..." se tornaria tão emblemática como o "play it again" de Casablanca ou o "shaken, not stirred" de James Bond. Imaginada por George Lucas na alvorada de 70, e levada ao ecrã pela primeira vez a 25 de Maio de 1977, A Guerra das Estrelas revelar-se-ia mais do que um simples filme de sucesso. Inscreveu definitivamente a ficção-científica no mainstream, revolucionou a indústria, instituiu a importância económica do merchandise , colocou a Industrial Light and Magic na pole position das empresas de efeitos especiais e transformou George Lucas num milionário. Um conto de fadas galáctico transformado num fenómeno planetário.

Já se fazia ficção-científica desde Meliès. O género já havia produzido clássicos absolutos como Metropolis de Fritz Lang ou A Vida Futura de William Cameron Menzies. Experimentara o sabor do blockbuster e seus primeiros milhões de dólares com O Homem Que Veio do Futuro (Franklin J. Schaffner) e 2001 Odisseia no Espaço (Stanley Kubrick), ambos de 1968. Mas nunca até então o género havia conhecido tamanha capacidade de sedução global, numa história com naves velozes, exércitos estelares, raios laser, robôs e povos bizarros. A ideia da saga remonta a primeiros rabiscos em 14 páginas escritas à mão por George Lucas em 1973. Durante os anos seguintes foi aperfeiçoando a ideia, que a dada altura passou pela história de um general de 60 anos chamado Luke Starkiller (mais tarde seria Skywalker e consideravelmente mais novo). Um dos personagens era um tal Han Solo, então um humanóide verde com guelras. Havia um vilão de nome Darth Vader. E um poder místico a que chamou a "força".

Desenvolvido por Lucas como um conto moral, herdava o seu entusiasmo pelos estudos de Joseph Campbell sobre as mitologias das diversas culturas e suas ligações. De certa forma, criava um compósito da Odisseia , Beowulf e lenda do Rei Artur (com pitada Tolkien) e projectava as ideias num tempo distante e numa galáxia longínqua. Os arquétipos estão aqui todos: o jovem aventureiro com quem o espectador se quer identificar, a donzela em perigo, o velho sábio, o vilão e os personagens divertidos capazes de assegurar o necessário comic relief. Devidamente apurada, a história (que começou por ser um filme, depois esticada a três e finalmente contada em seis) cruzou inteligentemente as regras do cinema de aventuras com as ideias clássicas da space opera (evocando os velhos serials de Flash Gordon e Buck Rogers que Lucas vira na infância), numa espécie de versão revista e adaptada do velho combate entre o bem e o mal. Nem faltam os espadachins, só que desta vez munidos de sabres de luz, a arma nobre dos cavaleiros Jedi

A América de 70 era um mundo diferente do que hoje conhecemos. Depois de Watergate, do Vietname, o país encarava a ideia do herói com cinismo. Os filmes-catástrofe somavam êxitos.

No final dos anos 60 os donos dos estúdios começaram a vendê-los às grandes corporações. E estas não perderam tempo para estudar o mercado, verificando haver um apetite alargado de cinema para plateias jovens (fenómeno idêntico ao que as editoras discográficas conheceram em meados de 50 diante da explosão rock'n'roll). Perante a ascensão da televisão, o velho studio system estava em colapso e os executivos de Hollywood viraram-se para as universidades em busca de novos realizadores. Encontraram assim nomes como os de Coppola, De Palma, Scorsese, Carpenter, Spielberg e... Lucas (na foto). Este último havia conquistado algumas atenções com THX-1138 , curta de ficção-científica realizada no quadro curricular. Em 1971, dois anos depois de se juntar a Coppola na Zoetrope, estende o filme a longa-metragem. O estúdio assustou-se, o público também. Mas a semente criativa germinou. Em 1974, com o rascunho de A Guerra das Estrelas na mão, Lucas bateu, debalde, às portas dos estúdios. Só encontrou "força" em Alan Ladd Jr, que então dirigia o gabinete criativo da 20th Century Fox. Acreditou e apostou. Com o sucesso recente do seu American Graffiti, George Lucas assinou o contrato para fazer o seu filme. E, golpe de génio, desde logo fez um gesto que asseguraria o sucesso da operação, sua continuidade e gestão nas suas mãos: por contrato, Lucas não só chamava a si o controle do merchandise (coisa até então nunca vista) como garantia a possibilidade de filmar as sequelas. Isto porque, depois de transformado o rascunho em argumento, verificara que só o primeiro terço da história dava para um filme.

Em sucessivas batalhas por orçamento e tempo, a rodagem e produção de A Guerra das Estrelas foi, por si só, um caso épico. Para garantir a qualidade dos efeitos desejados (o supra-sumo do género era ainda o 2001 de Kubrick), Lucas cria então a sua própria companhia, a Industrial Light and Magic. A aposta em actores quase desconhecidos e uma história que parecia brincadeira infantil garantia suores frios e pesadelos aos executivos. Mas quando o filme finalmente estreou, para espanto e impacto global, em 1977, ninguém (talvez nem mesmo Lucas) esperava que o fenómeno atingisse a dimensão que alcançou. Entre 1977 e 1983 Lucas completou a sua saga. Depois de A Guerra das Estrelas, que revelou as figuras de Luke, Leia, Han Solo, Obi Wan, os robôs C3P0 e R2D2, o vilão Darth Vader e todo um espírito de revolta rebelde contra o poder de um império belicista, seguiram-se o intermédio (e mais sombrio) O Império Contra-Ataca (realizado por Irvin Kershner em 1980) e o triunfante O Regresso de Jedi (de Richard Marquand, 1983). Missão cumprida. Império derrotado. A "força" estava com ele.
.
Mas depressa George Lucas sentiu o desejo (e sede popular) por mais. Tinha de contar como a história tinha ali chegado. Quem era Darth Vader antes de ser seduzido pelo lado negro da "força"? Como era o universo sobre a ordem dos Jedi? Como havia o Imperador corrompido a galáxia? Sem a tecnologia com que sonhava para dar forma ao desejo, optou por esperar. E quando viu os dinossáurios digitalmente criados para o Parque Jurássico de Spielberg sentiu chegada a hora. Começou por retocar os filmes da primeira saga. E logo encetou o trabalho numa nova trilogia, o primeiro episódio da qual estrearia em 1999 sob o título A Ameaça Fantasma. Tecnicamente mais apurado, O Ataque dos Clones (2002) continuou a história que encerra no´negro A Vingança dos Sith . O passado cumpre-se. As peças entram no jogo no lugar certo. Darth Vader ergue-se do corpo mutilado de Anakin Skywalker. O fim da saga, que é afinal o começo da primeira, fecha o ciclo em 2005, E depois? Livros e jogos já piscaram o olho ao futuro. E George Lucas, mesmo afirmando que irá fazer algo completamente diferente, não abandonará o sonho da sua vida. Já se fala numa série de televisão. Numa versão 3D... A "força" irá continuar connosco.
PS. Versão editada de um texto publicado no DN em 2005

Postal de Cannes, 24 de Maio de 2007 (2)


Sabine Bonnaire tem 38 anos e é autista. Na adolescência, num tempo em que a atenção a esta doença era muitíssimo menor (tanto no plano médico, como em termos sociais), viveu mais ou menos protegida pela família, em particular pelas suas irmãs. Uma das irmãs, a actriz francesa Sandrine Bonnaire (Aos Nossos Amores) filmou-a ao longo de 25 anos, registando o progressivo agravamento do seu estado, a desastrosa passagem por um hospital psiquiátrico, enfim, a detecção correcta da sua condição: Elle s' Appelle Sabine (Quinzena dos Realizadores) e um dos mais belos documentários que este ano se viram em Cannes, ou seja, a prova real de que é possível mergulhar fundo na intimidade mais dramática, recusando, ponto por ponto, a violência e a obscenidade da reality TV e dos seus promotores. Para Sandrine Bonnaire (39 anos), esta é também a estreia na realização, por isso mesmo a concorrer para a Câmara de Ouro — seria um belo prémio para a sua subtileza formal e também uma pedagógica divulgação sobre a condição dos autistas.

quinta-feira, maio 24, 2007

Postal de Cannes, 24 de Maio de 2007 (1)


Alexandra (Galina Vishnevskaya, viúva do violoncelista Mstislav Rostropovich) é uma velha senhora que se desloca a Tchechénia para visitar o seu neto, militar russo destacado para a região. Perante o seu olhar passam as gentes e os lugares de uma guerra que ela já não consegue integrar no seu imaginário. Alexander Sokurov (autor de A Arca Russa, Mae e Filho e Pai e Filho) filma a sua viagem como uma espécie de magoado exílio interior, nostálgico de uma Rússia maternal, abrangente e em paz com os seus próprios fantasmas. É o mais poético dos filmes sobre a mais realista das situações — se precisarem do meu voto para a Palma de Ouro, é este.

Primavera do amor

Um teledisco para descobrir uma nova banda com raizes na folk, mas evidente curiosidade pela pop. Chamam-se Lavender Diamond, são californianos, e acabam de editar o seu álbum de estreia Imagine Our Love. Aqui fica o teledisco do primeiro single, Open Your Heart.

Postal de Cannes, 23 de Maio de 2007

Dá que pensar…
É impressão minha ou chegámos à era dos “filmes-anti-depressivos”, tão suaves e tão equívocos como a filosofia (!) médica (?) que confunde a complexidade da vida interior de cada pessoa com a quantidade, maior ou menor, de pílulas que essa pessoa anda a engolir?...
Não me interpretem mal: Cannes está a ser magnífico, com filmes assombrosos – que pena que o Paranoid Park, de Gus Van Sant, tenda a ser olhado “apenas” como o Elephant 2 –, alguns deles quase descobertas absolutas, como o coreano Secret Sunshine [foto aqui ao lado], de Lee Chang-Dong (um belo estudo sobre uma mulher cujas tragédias familiares a conduzem ao envolvimento com os valores de uma “religiosidade” normativa e castradora).
Mas Cannes está a ser também o festival desse novo tipo de filmes que se fundamentam num programa estratégico – simultaneamente narrativo e ético – que os faz funcionar como uma espécie de obrigatórios objectos “terapêuticos”.
Caso exemplar entre todos: A Mighty Heart [foto em cima], uma revisão do caso de Daniel Pearl, jornalista do Wall Street Journal (chefe da respectiva delegação asiática), raptado e assassinado em 2002. A Mighty Heart centra-se no drama da mulher de Daniel, Mariane Pearl, baseando-se, aliás, no seu livro de memórias. Angelina Jolie interpreta a personagem num filme em cuja produção está envolvido o seu marido, Brad Pitt. A realização pertence a Michael Winterbottom.
O envolvimento de Brad Pitt e Angelina Jolie com este projecto decorre do seu empenho em defender causas humanitárias e, em particular, em denunciar o terrorismo, procurando criar condições políticas e psicológicas para o seu progressivo desmantelamento. É uma atitude que só me suscita admiração e respeito (e espero que se entenda que esta é uma afirmação em que não coloco nenhuma ironia ou ambiguidade).
Em todo o caso, há qualquer coisa de “compulsivo” no facto de vermos, em Cannes, na conferência de imprensa de A Mighty Heart, Brad Pitt, Angelina Jolie e, como uma espécie de irrecusável caução, a própria Mariane Pearl. Dir-se-ia que já não há espaço para um filme existir já que, em última instância, o próprio filme é apenas o elo mais fraco (porque “ilustrativo”) deste dispositivo de ritualização moral da história do nosso presente. Trata-se tão só de garantir ao espectador que o seu empenhamento o coloca necessariamente do lado bom. Resultado? Certamente alguma atenção mediática para os factos evocados, as suas implicações políticas e a sua gravidade moral. Mas também a redução do espaço social do cinema (e da própria discussão de ideias) a uma “catequese” colectiva onde apenas conta o simbolismo, concreto mas equívoco, de participarmos numa gigantesca cerimónia de suposta purificação.
O mesmo se poderá dizer de alguns outros títulos já passados em Cannes: Sicko, de Michael Moore [foto neste parágrafo], embora neste caso a assunção de um discurso na primeira pessoa, para mais em tom assumidamente panfletário, favoreça um genuíno confronto de pontos de vista; Import Export, de Ulrich Seidl, sobre os marginais sociais da Europa, nomeadamente na Áustria e na Ucrânia; ou ainda Persepolis, de Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud, baseado na BD de Satrapi e centrado na sua experiência, por vezes dramática, de cidadã iraniana dentro e fora do seu país.
São, todos eles, filmes eminentemente televisivos – e no sentido mais esquemático de tal “inspiração”: alimentam a ilusão de que é possível colocarmo-nos numa espécie de “exterior” da história colectiva a partir do qual tudo se tornaria transparente e, no final de tudo, redentor.
… Ou como a boa vontade dos filmes pode favorecer a infantilização dos espectadores.
(À suivre).

quarta-feira, maio 23, 2007

Rita Mitsouko: encore

Magnífica capa e delicioso álbum. Dir-se-ia um exercício de simples manutenção, em todo o caso executado com a segurança e a precisão dos veteranos. Dito de outro modo: acaba de saír em França o novo registo dos Rita Mitsouko, ou seja, a dupla formada por Catherine Ringer e Fred Chichin — chama-se Variéty, combina no seu título a palavra francesa "variété" com o inglês "variety" e apresenta-se como uma antologia de canções de uma pop recheada de ritmos muito dancantes, aqui e ali rasgada por desvios tradicionais de subtil respiração "a la française". Pode ser (mais) uma derivação para avaliar como nem tudo o que importa (e exporta) tem que soar obrigatoriamente a coisa anglo-saxónica...

Postal de Cannes, 22 de Maio de 2007

Para além dos títulos marcantes desta edição — e o Paranoid Park, de Gus Van Sant é um daqueles que vai crescendo dentro de nós... —, Cannes 2007 vai ficar também como o festival dos filmes empenhados em valorizar o seu próprio estilo. Estilo? O que é "estilo", hoje em dia? Muitas vezes não passa da preocupação de exibir uma certa evidência formal (e sobretudo formalista) que, por assim dizer, tenta funcionar como caução de "verdade" artística — na pior das hipóteses, os filmes já não falam de nada, a não ser da ostentação do seu próprio "estilo" (Tarantino, voilà...).
Neste contexto, apesar de tudo, a maior surpresa vem do mexicano Carlos Reygadas e do seu enigmático Luz Silenciosa [foto em cima], uma história de amor e paixão no interior do mundo fechado, hiper-religioso e fascinante, dos menonitas: Reygadas consegue impor uma visão austera e envolvente, sem nunca perder de vista as singularidades do mundo que retrata.
O mesmo não se poderá dizer de Le Scaphandre et le Papillon, do americano Julian Schnabel, ou The Man from London, do húngaro Bela Tarr. O primeiro adapta o livro homónimo de Jean-Dominique Bauby, jornalista vítima de um acidente que o paralizou para o resto da vida, mas que apenas através do movimento codificado de um olho conseguiu ditar esse mesmo livro; o segundo [foto a preto e branco] transpõe o romance homónimo de Georges Simenon. Em ambos os casos parece ter prevalecido a preocupação de afirmar uma especificidade do olhar e da "mensagem" que tende a sobrepor-se a todas as personagens e todas as situações — são filmes sedutores, por vezes brilhantes nas suas "invenções" formais, mas estranhamente vazios e, no limite, descrentes nos poderes particular do cinema.

Discos da semana, 21 de Maio

Algumas das mais recentes edições e lançamentos locais, numa perspectiva crítica:
Autor de uma obra que, cruzando géneros e caminhos característicos das mais profundas expressões musicais americanas (a folk, a country, o gospel), Bill Callahan cedo aí encontrou um lugar muito seu. Chamou-lhe Smog. Ou, para sermos mais precisos, (Smog). Esse foi um lugar que nunca evitou o desejo de experimentar, mesmo nos estúdios mais imperfeitos, as ideias superando sistematicamente as formas, optando frequentemente por um ascetismo quase minimalista (o que não é sinónimo de ter pouco para dizer ou tocar, bem pelo contrário). A sua discografia deu-nos grandes canções, muitas vezes reduzidas à essência da sua estrutura, nascidas num pequeno caos de acontecimentos, todavia firmes numa demanda estética e, de disco para disco, demonstrando progressivo aprimoramento da escrita. Woke On a Whaleheart é o primeiro álbum que edita em nome próprio. E, para todos os efeitos, uma das mais belas surpresas do ano. O aparente sucesso no amor não calou o velho céptico mas, aparentemente, sublimou velhas melancolias, trouxe-lhe luz, ousadia pop, fôlego renovado. E, como no rio de que fala em From The Rivers To The Ocean, mergulhou no bem-estar encontrado (ao lado de Joanna Newsom, esclareça-se), deixando-se levar à descoberta de novas praias... Não embriagado de amores. Mas ciente da sua importância na estruturação de uma vida (e obra) diferente. Uma certeza que se reafirma, a fechar o disco, em A Man Needs a Woman Or a Man To Be a Man. O todo apenas possível na realização amorosa, portanto. Pontualmente ainda encontramos ecos de um comentador muito particular do mundo e da sua relação com os outros. Estão aqui, evidentes, as suas heranças folk, country... Mas nunca antes o céu esteve tão limpo sobre Bill Callahan.
Bill Callahan
“Woke on a Whaleheart”

Drag City / Ananana
4/5
Para saber mais: site da editora (o MySpace do músico ainda só tem canções de Smog.


Dois anos depois do justificadamente aclamado Alligator, doze passados sobre o êxodo que os afastou da sua Cincinnati natal e deu nova morada em Nova Iorque (mais concretamente em Brooklyn), os The National apresentam um quarto álbum que enquadra, como se esperava, no trilho que têm vindo a traçar, solidamente, disco a disco. Mais que meros colectores de grandes raízes e referências autorais (falou-se já de Leonard Cohen, Bruce Springsteen, Bob Dylan e, mais justificadamente, Mark Eitzel), os The National conseguem hoje, sobretudo depois de Alligator e Boxer, afirmar um lugar seu no actual panorama rock alternativo norte-americano, algures numa latitude que investiga as faces menos luminosas da vida (a perda, as ausências, o remorso), no ponto onde a longitude lhe dá um oportuno soco e o ponto resultante aceita que daí nasça uma música que procura tudo menos a já estafada implosão depressiva. Sucessor evidente de Alligator, Boxer desenvolve mais ainda um cativante sentido de cenografia em redor das canções (sob belos arranjos de Padma Newsome, dos Clogs), convidando-as a uma grandiosidade formal que não obriga à contaminação de elementos emocionais alheios à identidade de uma escrita que se mantém fiel ao que literariamente sempre foi. Num espaço de consciência urbana, onde contudo mora um sentido de espaço de quem conhece outros horizontes, uma música cada vez mais familiar, elaborada, sóbria. E nem por isso de resignação.
The National
“Boxer”
Beggars Banquet / Popstock
4/5
Para ouvir: MySpace


A série DJ Kicks tem permitido descobrir não só carreiras em paralelo de muitos músicos enquanto DJs, como frequentemente revela gostos e opções que nem sempre as suas canções destapam e as entrevistas focam. Os mais recentes convidados a “gravar” uma sessão para a série foram os Hot Chip, opção que claramente se deve ao impacte obtido pelo seu álbum de 2006. Se em disco mostram uma vontade firme de trabalhar a pop sob ferramentas essencialmente electrónicas, na hora de cruzar discos mostram ser senhores de mais largos horizontes, e convocam outros sons e artistas ao seu set. Ordenado segundo um crescendo, com final onde não falta o party number e a descompressão de fim de festa, o conjunto de temas cruzados é na sua maioria interessante, perdendo-se um pouco na etapa de costela house a meio do alinhamento, mas recuperando fôlego e versatilidade no final. Muitos temas “obscuros” (apenas porque pouco divulgados) dominam um álbum onde a familiaridade surge depois ao som dos New Order, Joe Jackson, Etta James ou Ray Charles... Boas surpresas com Tom Zé e Black Devil Disco Club e uma auto-citação com uma versão de My Piano... Interessante, mas não mais que isso.
Vários (selecção dos Hot Chip)
“DJ Kicks”

!K7/Zona Música
3/5
Para ouvir: Site oficial


Adjectivos como elegância e requinte são habitualmente emprestados à música dos Pink Martini. Contudo, “preguiça”, “comodismo” e “previsível” são palavras que, mais ainda, encaixam perfeitamente na forma de descrever o que fazem. O colectivo norte-americano, com dez anos de vida e apenas três álbuns editados, teve a início o mérito de, depois de nomes como Dimitri From Paris, Ursula 1000 ou Fantastic Plastic Machine, ter continuado a dar nova vida a um espaço ao qual se aplica habitualmente a expressão easy listening. Contudo, após dois álbuns de mera revisitação de formas (ao invés dos demais nomes citados, sempre dispostos a reinventar novas formas para velhas heranças), a chama apagou. Hey Eugene! é, como os anteriores, um disco de primor nas formas, competente na interpretação e preciso na revisitação dos modelos convocados. Porém, o cocktail de Carmen Miranda, França anos 60, cha cha cha mais outros apetites latinos, China light, Médio Oriente lá lá lá e soul pop anos 70 não parece desejar mais que recolher a nostalgia pela nostalgia para oferecer suposto exotismo retro a plateias actuais. A personalidade conjunta é apenas igual à soma das memórias lembradas, zero de intervenção além da maquilhagem mínima necessária a cada evocação. Sem um programa, um destino, uma ordem. Nah!
Pink Martini
“Hey Eugene!”

Naïve / EMI Music Portugal
2/5
Para ouvir: MySpace


Só agora chegou oficialmente aos nossos escaparates o álbum de estreia dos Larrikin Love (lançado em Setembro de 2006 em Inglaterra). E convenhamos que valeu a pena esperar por eles. O disco está longe de ser um daqueles que iremos celebrar como os grandes do ano ou de representar a mais suculenta estreia do momento. Mas é um interessante espaço de experimentação de heranças folk, todavia com uma consciência política e social que não esconde outras contaminações. A história do relacionamento da folk com genéticas rock é antiga no Reino Unido, com nomes como os Waterboys, Pogues, The Men They Couldn’t Hang ou The Levellers entre os seus mais distintos filhos. Nos tempos mais recentes, e sob o interesse de uma nova geração de músicos e bandas pelos vários legados folk, destacaram-se várias bandas onde a personalidade presente (compósita) revelou novas formas de abordagem a tradições antigas. Veja-se, por exemplo, o caso mui mediatizado (porque nomeado para o Mercury Prize) dos Guillemots. A estes juntemos então os Larrikin Love, cujo manifesto de estreia mais não mostra que igual gosto por colheitas folk, todavia chamando às suas canções uma inquietude punk que lembra os Clash. São interessantes comentadores da vida inglesa actual (de um ponto de vista desencantado), gostam de piscar o olho a Oscar Wilde, Rimbaud e George Orwell e revelam-se aqui muito mais que o fruto de uma cena inexistente (chamaram-lhe “Thamesbeat”) a que surgiram associados, em tempos, nalguma imprensa brit. Uma estreia convidativa.
Larrikin Love
“The Freedom Spark”

Ryko / Edel
3/5
Para ouvir: MySpace


Também esta semana: Maps, Pet Shop Boys (DVD), Depeche Mode (reedições), Moody Blues (BBC Sessions 1967-70), Lena D’Água, Erasure, Blue Aeroplanes, Grant Lee Philips

Brevemente:
28 de Maio: Black Rebel Motorcycle Club (ed nacional), Clash (caixa), Jeff Buckley (best of), Richard Thompson, Tiga (remisturas), The Knife (ed DeLuxe), Von Sudenford, The Bravery, The Cinematics, R Foster/G McLennan (best of das gravações a solo), Trademark
4 de Junho: Perry Farrell, Paul McCartney, Bonde do Role, Marvin Gaye (reedição), Bruce Springsteen (live), Nick Lowe, Keren Ann, Junior Boys (EP), Suzanne Vega, Blanche
10 de Junho: Calvin Harris, Digitalism, Van Morrisson (best of), Queens of The Stone Age, Orbital (live), Travelling Wilburys, Amina, Scissors For Lefty

Junho: Spiritualized, Bryan Ferry (DVD), Marilyn Manson, Jorge Palma, David Bowie (DVD), Marc Almond (ed local), Frank Black, Clinic, Editors, Simian Mobile Disco
Julho: Interpol, Blondie (reedição)

Estas datas podem ser alteradas a todo o momento