segunda-feira, outubro 30, 2006

Discos da semana, 30 de Outubro

Vários “Marie Antoinette”
Desde cedo Sofia Coppola fez saber que iria usar em Marie Antoinette canções de bandas punk e pós-punk, ou, como a própria descreveu, neo-românticas (leitura livre e muito pessoal, já que este é rótulo habitualmente aplicado a outros casos da mesma época). Siouxsie & The Banshees, Bow Wow Wow, New Order, The Cure, Gang Of Four, Radio Dept., Windsor For The Derby ou The Strokes (estes dois últimos mais recentes) são alguns dos convocados a Versalhes. Não para apenas dar largas a um choque de identidades entre a imagem mostrada e o som que a ilustra, mas como expressão possível de uma opção impressionista, na primeira pessoa, através da qual a realizadora pretendeu retratar a jovem rainha e o seu mundo. Ceremony, dos New Order, por exemplo, é jogo de contraste entre um tom festivo aparente e uma melancolia interior, que em tudo se ajusta ao filme. Assim como Hong Kong Garden, de Siouxsie & The Banshees é hedonismo em explosão, perfeita escolha para um baile na ópera de Paris, que a rainha e um grupo de amigos visitam, incógnitos. Mas nem só de soberbas canções de genética punk (e afins) vive a música que se escuta em Marie Antoinette. O disco, duplo, divide inteligentemente as faixas entre um CD1 de face mais pop e um CD2 de tez ambiental, aqui colhendo tanto peças de época (de compositores como Couperin ou Vivaldi) ou composições essencialmente dominadas pelas electrónicas recentes por nomes como Aphex Twin ou os repetentes Air (que assim fazem o pleno nos três filmes de Sofia Coppola). Entre canções de travo punk e peças de época, a banda sonora de Marie Antoinette é elemento de importância estrutural na definição da visão impressionista e estilizada pretendida pela realizadora. Controversa ou não, a escolha promove, além do filme, a edição de um disco cujo alinhamento garante uma lógica de coerência inquestionável. E garante, dado o berço em cinema que lhe deu razão de existir, uma das melhores bandas sonoras em disco de todo este ano.

The Gift “Fácil de Entender”
Nem apenas um compasso de espera antes de um novo álbum, nem exactamente um live album ou mesmo um best of. Mas um pouco de tudo isto ao mesmo tempo. CD duplo e DVD, este é um live em estúdio que parte do conceito AM/FM e a ele aplica uma lógica de concerto em duas faces, que concilia as canções do último álbum com algumas canções mais antigas. Registo sem falhas, o já habitual perfeccionismo ao serviço de um registo profissional e competente. O suporte em DVD permite o registo de som e imagem que os vídeos em VHS já editados não ofereciam. No áudio, a novidade em dois inéditos e numa versão segura, orquestrada, de Fácil de Entender. Nos inéditos há o “chapa cinco”, eficaz mas pouco entusiasmante de Nice And Sweet. E o ligeiro levantar do véu sobre eventuais destinos futuros num 645 que parece mais atento ao som do presente... Interessante, mas com sabor a fim de ciclo. Haja uma pausa, agora. E um criterioso reinventar de caminhos para, a tempo certo, garantir um regresso consequente.

Luna “Best Of Luna”
Enquanto por cá, salvo pontuais excepções, as editoras fazem best ófes para salvar as contas no Natal, por outras paragens outros aparecem porque há histórias para contar. É o caso desta soberba caixinha de memórias de uma das mais belas bandas indie pop de 90, recentemente desactivada. Herdeira, pela presença protagonista de Dean Warenham, dos Galaxie 500, a música dos Luna (guitarras sedutoras, uma secção rítmica segura e uma escrita herdeira de Tom Verlaine) trouxe um apelo de sonho a uma pop de personalidade vincada, alicerçada sobre uma multidão de referências de primeira água. Algumas dessas referências, juntamente com outros sinais de bom gosto, servem-se em versões num CD extra à antologia. Velvet Underground, Gaisnbourg, Blondie, John Lennon, Kraftwerk, Suicide ou Talking Heads, ao luar, como complemento a uma belíssima colecção de grandes canções editadas entre 1992 e 2004..

Pernice Brothers “Live A Little”
O sucessor do magnífico Discover A Lovelier You vê os Pernice Brothers a regressar ao produtor que lhes registou a estreia em 1998 e com quem em tempos Joe Pernice trabalhara nos Scud Mountain Boys. Todavia, não parecem querer abandonar o filão pop clássico ao qual se dedicaram depois de um passado alt-country. Na verdade, face aos seus discos mais recentes talvez se verifique um polir das arestas evidenciadas em Yours, Mine & Ours (2003) e uma maior contenção na luxúria dos arranjos do álbum de 2005. O único problema deste novo disco encontra-se apenas no naipe de canções levadas a estúdio. Bem construídas e sólidas, mas longe da oferta que fez desses dois álbuns verdadeiras peças obrigatórias para gostos classic pop.

My Life Story “Sex & Violins”
Descritos numa expressão, os My Life Story não são mais que uma espécie de Divine Comedy de segunda linha. Com carreira musical desde 1980, o britânico Jake Stillingfield apresentou-se sob a designação My Life Story em 1990, cordas e arranjos sumptuosos em lugar das guitarras e ritmos habituais nas lides pop/rock. A carreira da banda, irregular, produziu alguns momentos interessantes, como Girl A Girl B Boy C (produzido pelo filho de George Martin) ou Sparkle, do álbum de 1996, talvez o mais sólido da obra da banda. Este best of mostra bem a irregularidade da sua produção (e como a coisa piorou chegados a 2000). Pena a ausência de um texto que conte que histórias estas músicas encerram.

Também esta semana: M Ward, Joana Amendoeira, Ann Pierlé, Aimee Mann, The Who

Brevemente:
6 de Novembro: Balla, Mariza (ao vivo), The Matches, Kool & The Gang (antologia), Philip Glass (ópera e BSO The Illusionist), Moby (best of), Acorda (compilação em mp3), Agnés Jaoui
13 de Novembro: Jarvis Cocker, Albert Hammond Jr, Kaada
20 de Novembro: Cool Hipnoise

Novembro: Sam The Kid, Protocol, Goldfrapp (remisturas), Duran Duran (2 reedições), Jay Jay Johansson, Humanos (ao vivo), Tom Waits, Sons & Daughters, Bryan Ferry, The KBC, Third Eye Foundation, JP Simões, U-Clic, Joseph K (antologia)
Dezembro: Sonic Youth (lados B), Rodrigo Leão (best of)

Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento

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