quarta-feira, outubro 03, 2012

50 anos de James Bond,
Shirley Bassey (1964)


É com Goldfinger (1964) que se estabelece o cânone pop para James Bond. Ou seja, é com a canção na voz de Shirley Bassey (que regressaria ainda duas vezes mais a território James Bond) que se cria o hábito de acompanhar os créditos de abertura de cada novo filme do agente secreto 007 com uma canção que, ao mesmo tempo, serve a promoção do filme pelos espaços habituais da música pop e, por outro, ajuda a definir uma das mais marcadas características formais dos filmes da saga. Com música composta por John Barry, e com gravação produzida por George Martin, a canção de Shirley Bassey transformou-se com o tempo num dos maiores clássicos da tradição musical bondiana. O single chegou ao top 10 nos EUA e vendeu mais de um milhão de cópias. São inúmeras as versões existentes, de um lado B dos Magazine a uma leitura dos portugueses Belle Chase Hotel.

terça-feira, outubro 02, 2012

Ziggy Stardust: regresso ao futuro

Os 40 anos do álbum de David Bowie, The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars, têm suscitado as mais variadas celebrações, incluindo um concurso de telediscos, promovido pela EMI e a GeneroTV. Diego Neon (Argentina) foi o vencedor com este magnífico exercício nostálgico e futurista, centrado numa transformação digna de camaleão... comme il faut.

A partida, segundo os Pet Shop Boys

E este é já o terceiro teledisco criado para canções no novo (e magnífico) Elysium, dos Pet Shop Boys. A escolha recai desta vez sobre Leaving, o tema que abre o alinhamento do disco. O tema será brevemente editado no formato de single. Bela escolha, sim senhor!

Novas edições:
Paul Buchanan, Mid Air


Paul Buchanan 
“Mid Air” 
Newsroom Records 
4 / 5

Com sensibilidade e bom senso os Blue Nile assinaram curta mas intensa discografia. Apenas quatro álbuns entre A Walk Across The Rooftops (1984) e High (2004), entre os quais o inesquecível Hats (1989), uma obra-prima dos oitentas que tanto deve à cuidada escrita do trio de músicos, como à melancolia característica do canto de Paul Buchanan ou o saber na arrumação dos elementos cénicos conferida pela produção atenta e irrepreensível de Calum Malcolm. Oito anos depois de um álbum que traduzira (durante a sua criação) um afastamento entre os músicos, Paul Buchanan, agora com 56 anos, estreia-se a solo num disco que, sem surpresa, transporta algumas heranças naturais do trabalho com os Blue Nile. Mid Air não será, contudo, a expressão individual do quinto álbum que gostaria de ter gravado como conclusão da obra conjunta do trio que dele fez uma voz de culto. Mantém o clima ameno, os tons menores, a voz pausada, até mesmo conta com a presença do filho de Calum Malcolm na equipa técnica (como engenheiro de som)... Mas Mid Air é um depoimento pessoal, centrado num “eu” que carrega dúvidas e mágoas, que sabe do tempo que passou, que reflete a experiência da morte recente de alguém próximo, que encontra fôlego e ousa, a sós, a exposição. O piano ganha aqui protagonismo evidente, as curtas canções que fazem este alinhamento (de apenas 36 minutos) optando por um minimalismo de recursos adicionais, pontualmente as cordas ou sugestões de ambientes servindo de discreto pano de fundo. O foco está portanto nas palavras, na forma como dialogam com as linhas que o piano vai sugerindo, doseando os silêncios, sugerindo uma noção de espaço que envolve discreta, mas aconchegadamente, cada canção. Os ambientes são de lusco-fusco, a luz brilhando fugazmente no belíssimo instrumental dominado pelas cordas que escutamos em Fin de Siècle, já a caminho do final. Mid Air é coisa frágil, íntima, noturna. Pede atenção. Pede que nos libertemos do ritmo em nosso redor e mergulhemos nos lugares e tempos de que é feito. E mostra como com pouco se pode fazer muito.

Nova Iorque, segundo Andrew Tomine

Fotos: Flavorwire

Chama-se Andrew Tomine, tem 38 anos e é ilustrador. Conhecemo-lo de inúmeras imagens publicadas na New Yorker (muitas delas em capas da revista) ou em capas de discos (como End Times ou Electro Shock Blues, ambos dos Eels). Nascido na Califórnia, tornou-se contudo num dos mais interessantes observadores das cenas da vida quotidiana de Nova Iorque. E New York Drawings, o novo livro que agora edita, mostra-nos olhares por momentos da vida da cidade. Dos turistas que sobem a 6ª Avenida e passam em frente ao Radio City Music Hall, do viajante solitário no metro de auscultadores nos ouvidos, dos que assistem a uma sessão de cinema ao ar livre, à beira rio... Publicado pela Drawn and Quarterly, o livro, com 174 páginas, foi ontem lançado nos EUA.

Podem ler aqui um artigo sobre este lançamento.
E aqui podem consultar o site oficial do ilustrador.

50 anos de James Bond
Matt Monro, 1963


Coube a Matt Monro a “honra” de inaugurar a elegante e muito exclusiva lista de vozes que cantaram para James Bond. Foi em 1963, cabendo-lhe a canção-tema para o segundo filme da série, From Russia With Love, da autoria de John Barry. Ainda longe do modelo canónico que seria instituído pouco depois, a canção é escutada num dos instantes do filme e sobre os créditos finais. No genérico ouve-se, antes, uma versão instrumental.

segunda-feira, outubro 01, 2012

Em Toronto... de noite

E eis que está aí o sucessor de Veckatimest. Shields é o novo álbum dos Grizzly Bear e este Yet Again é um teledisco que lhe serve de cartão de visita. Parceria da Creators Project com a Warp Records (que edita a banda), o teledisco foi rodado em Toronto e é assinado por Emily Kai Bock.

O cais do olhar

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Vulnerável, sem dúvida. A aparente placidez do olhar e o leve esboçar do sorriso que mostra a quem se senta à sua frente parecem realidade bem distante da violência de uma outra performance, na qual se lançava contra uma parede ou outra, em que cortava na pele a figura de uma estrela de cinco pontas... Mas na verdade tanto uma como outras são desafios que lança ao seu corpo, entregando-o à expressão de uma ideia, um jogo de formas, uma carteira de intenções. Falamos de arte. De arte performativa. De uma das suas maiores criadoras: Marina Abramovic. E de um filme, de Mathew Akers – Marina Abramovic – The Artist is Present – que passou este ano por Sundance e pela Berlinale e que, na semana passada, teve estreia portuguesa integrada na programação do Queer Lisboa 16. É certamente um dos melhores filmes que podemos ver este ano. É tudo menos uma peça “difícil” para plateia minimalista. Pelo contrário, tem o poder de encanto de um Pina, de Wim Wenders (e a capacidade de cativar o mesmo público). Porque não há então sinais de qualquer aparente interesse de um distribuidor nacional em levar a sala este filme? (*)

O olhar de que falava no início do texto é o que, durante três meses (enre março e maio de 2011), dia após dia, Marina Abramovic lançava aos que se sentavam à sua frente no átrio do piso 2 do MoMA (Museum of Modern Art, em Nova Iorque), onde uma retrospetiva da sua obra esteve em exposição, ali chamando mais de 700 mil visitantes durante este período. Com o título The Artist Is Present (e de facto a artista esteve sempre presente), a exposição colocou a performance, uma forma de arte iminentemente "efémera", num espaço mais habituado à pintura, à escultura e outras formas fisicamente “estáveis” das artes visuais. Nos pisos superiores havia fotos, vídeos e uma série de jovens performers a recriar algumas das suas mais célebres criações. Mas era num átrio (junto a uma das livrarias do museu) que se centravam mais atenções, Marina habitando o espaço em permanência, sob a presença de fortes luzes esperando, sentada, a visita, um após outro, dos que à sua frente se sentavam para olhar para si.

O que o filme nos mostra é um olhar que concilia a contemplação desta performance de três meses com os bastidores da sua preparação (bem como da exposição onde representava a “peça nova”), juntando ainda olhares sobre criações anteriores, a sua história pessoal e artística, as suas dúvidas e anseios enquanto criadora e panoramas sobre o que, nos pisos sobre o átrio onde se sentava, os visitantes do MoMA puderam ver.

Como filme, Marina Abramovic – The Artist Is Present é de grande simplicidade formal, optando o realizador por se focar na história, no espaço e na personagem e não no modo de nos apresentar este mundo. Sem embarcar nos desafios de cruzamento de linguagens visuais ou de recurso alternativo à entrevista e off enquanto elemento narrativo, o filme desarmante expressão de um modelo clássico (há talking heads, há uma voz que nos conduz, relata e se confessa). A sua força mora na capacidade de entender o ser maior que tem pela frente. Em respeitar a verdade da performance (e não a ilusão, que a dada altura alguém lembra que é o que separa o performer do ator). Em saber do tempo que o olhar pede frente ao ecrã. Não que o realizador se faça invisível ou mero veículo. Mas antes alguém (claramente rendido ao objeto da sua atenção) com a capacidade de partilhar o protagonismo, a sua forma de ver, o ritmo do seu olhar e o modo de nos ir informando encarando-nos nos olhos. Da mesma forma plácida, mas plena de intenções, com que Marina olhava para os que à sua frente se sentavam.

Podem ver aqui o trailer do filme

(*) Pelo menos até há poucos dias não havia e se já há só nos podemos dar por satisfeitos porque vamos poder (re)ver um dos mais espantosos documentários sobre o mundo da arte que o cinema nos deu nos últimos anos.

Novas edições,
Vários artistas, The Spirit of Talk Talk


Vários artistas 
“The Spirit of Talk Talk” 
Fierce Panda / Popstock 
3 / 5

Foi um dos vários tributos lançados este verão, tendo chegado aos escaparates em finais de setembro. São dois discos, recolhendo uma coleção de visões e reinterpretações de canções de uma banda que, como poucas, soube entender a arte da reinvenção de si mesma como figura de primeiro plano na sua ordem de trabalhos. Do patamar claramente mainstream em que nasceram e se mostraram em inícios dos anos 80 (com algumas afinidades para com os primeiros ecos da vaga new romantic) aos diálogos entre estéticas ambiente e um interesse evidente pelas liberdades formais do jazz dos seus dois últimos álbuns de originais (entre finais dos oitentas e inícios dos noventas), os Talk Talk deixaram uma obra relativamente curta, mas decididamente influente (e gourmet). Na hora de os homenagear, Spirit of Talk Talk reúne em dois discos uma pequena multidão de 30 versões, a seleção de matéria prima passando pelos seus diversos álbuns e até mesmo lados B. Se num primeiro olhar começamos por confirmar a rara transversalidade dos gostos que a sua obra conquistou, num segundo mergulhamos nas versões para descobrir como os admiradores se propõem a ler os que admiram. Invariavelmente irregulares nos resultados, os discos tributo juntam ainda em espaço comum uma mão-cheia de nomes de feitos reconhecidos com uma representação de ilustres (quase) desconhecidos. Uns mais felizes, outros nem por isso, os convocados mostram-se aqui (mesmo ao revisitar as memórias mais antigas dos Talk Talk) mais próximos dos tons suaves dos seus discos tardios. Vale mesmo a pena ouvir as leituras de Give It Up (Kid Creosote), Life’s What You Make It (Duncan Sheik), Dum Dum Girl (Recoil, com Shara Worden), Tomorrow’s Started (Jason Lytle) ou It’s Geting Late In The Evening (Davide Rossi, Nils Frahm e Peter Broderick)... Sem grandes tiros ao lado, o alinhamento garante por um lado a representação de uma vasta lista de participantes, mas ganharia se editado a um total de 20 canções (os “expulsos” podendo conhecer exposição como extras disponíveis para uma eventual edição maior ou mesmo como bónus online). Apesar de tudo, e terminada a faixa 16 do CD2, a vontade que fica é a de reencontrar, logo depois, os discos originais dos Talk Talk.

50 anos de James Bond
Monty Norman, 1962


Criado por Monty Norman, arranjado por John Barry e interpretado pela banda deste último, o clássico James Bond Theme surgiu em 1962 na banda sonora de Dr. No e desde então é “assinatura” indispensável em qualquer título da série James Bond. O tema instrumental foi assim uma das peças centrais da banda sonora do primeiro filme do agente secreto 007 e desempenha em Dr. No o papel que, a partir de 1963, caberia às canções que a cada filme foram sendo chamadas. É um instrumental dinâmico, com fulgor jazzy no arranjo e destaca a presença de uma guitarra surf rock (tendência então muito na ordem do dia). Além da inclusão no álbum, o James Bond Theme teve na altura edição num EP, a 45 rotações.