quinta-feira, setembro 27, 2012

Brian Eno 'ambiental' em novembro

Brian Eno regressa aos discos em clima "ambient" em novembro. Lux é o seu novo álbum a solo e tem edição assegurada pela Warp. O disco apresenta uma peça dividida em 12 partes (por quatro faixas). Já está na lista dos mais esperados do ano...

Queer Lisboa 16 - dia 7

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O Queer Lisboa passa hoje, integrado no programa ‘Curtas – Queer Art’ as curta-metragens O Que Arde Cura, de João Rui Guerra da Mata e Parabéns, de João Pedro Rodrigues. O programa, que inclui ainda filmes de António da Silva e José Gonçalves, passa às 19.30 na Sala Manoel de Oliveira e precede um debate sobre o cinema queer em Portugal. Antes (17.15 na mesma sala) passa o documentário Olhe Para Mim de Novo, de Claudia Priscilla e Kiko Goffman, que nos leva a espaços do Sertão brasileiro. Também do Brasil chega, pelas 22.00, e novamente na Sala Manoel de Oliveira, o filme Novela das 8, de Odilon Rocha.

Podem ver aqui a restante programação do dia.o. A primeira corresponde a no cinema
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"Mad Men" e as crianças

Esta é Kiernan Shipka no papel de Sally, a filha de Don Draper, em Mad Men: um exemplo admirável de abordagem do espaço das crianças — este texto foi publicado no Diário de Notícias (23 Setembro), com o título 'Como filmar um olhar de criança'.

Sally Draper, interpretada pela brilhante Kiernan Shipka (actualmente com 12 anos), é uma das personagens mais desconcertantes da série televisiva Mad Men. Filha de Don e Betty Draper (Jon Hamm e January Jones), separados na actual quinta temporada (a passar na RTP2), há nela uma bizarra e paradoxal energia: por um lado, sendo ainda uma criança, ocupa um lugar “marginal” aos problemas dos adultos; por outro lado, a sua inteligência e perspicácia leva-a a decifrar muitas das máscaras que os mais velhos usam para sobreviver na selva profissional da publicidade ou para manter os frágeis equilíbrios dos seus universos conjugais e familiares.
Tanto bastaria para a definir como inequivocamente exterior a esse cliché muito televisivo que faz com que as crianças (e adolescentes) sejam quase sempre expostas como marionetas da própria ficção: são figuras decorativas que parecem desprovidas de qualquer forma de sensibilidade humana ou, então, entram nas histórias como banais matérias instrumentais dos adultos e respectivos discursos.
O mais difícil, há que reconhecê-lo, é fazer passar a noção de que a personagem da criança não tem de ser um “símbolo” obrigatório da sua própria condição etária (impostura corrente no espaço das telenovelas), mas uma personagem que se distingue também por um olhar. Dito de outro modo: o desafio consiste em filmar a criança como alguém que, com mais ou menos ilusões, vazios ou equívocos, elabora o seu próprio ponto de vista sobre as relações em que está inserida.
Num dos episódios da corrente temporada (nº 7, “At the Codfish Ball”), Sally acompanha o pai numa recepção oficial, acabando por assistir, nos bastidores, a um acto sexual entre um homem e uma mulher cujos cônjuges permanecem, entretanto, no salão onde decorre o evento. O episódio termina com Sally a telefonar a um amigo a quem, em qualquer caso, não conta o que viu. Quando o amigo lhe pergunta “como está Nova Iorque”, ela responde com uma simples palavra que encerra o episódio: “Suja.” O que é admirável neste desenlace não é o “simbolismo” nem a “pedagogia”, mas a verdade visceral que emana de Sally: ela não só observa metodicamente o mundo à sua volta como tem uma visão moral que, na sua contundência, é estranha ao laxismo de quase todas as personagens adultas.
Não se trata, entenda-se, de dizer que Mad Men dá “razão” às crianças. Aliás, aplicando a velha fórmula de Jean Renoir, poderemos dizer que a série procura iluminar as “razões”, mesmo as mais cruéis ou insensatas, de todos os seres humanos. Trata-se antes de encenar as crianças como personagens vivas e contraditórias (Sally é também, por vezes, um vulcão de egoísmo), no mesmo plano dramático de todas as outras. Infelizmente, esse risco estético e ético é coisa cada vez mais rara no conformismo narrativo dos modelos televisivos.

quarta-feira, setembro 26, 2012

Dois irmãos (em Chicago)

São dois irmãos e vivem em Chicago. Juntos assinam como Wild Belle e têm um novo EP. It's Too Late é o tema que lhe dá título e que representa a sua estreia no catálogo da Columbia Records. Aqui fica o teledisco que o acompanha.

Novas edições:
Cat Power, Sun


Cat Power 
“Sun” 
Matador  Records
4 / 5

Foi longa a espera. Seis anos, pelo caminho um álbum de versões – Jukebox, em 2008. E na altura de acolher a chegada do sucessor de The Greatest sentimos aquele entusiasmo que muitas vezes nos leva a dizer que a espera foi compensada. Porque, para dizer a coisa em poucas palavras, Sun é uma deliciosa surpresa. A sua gestação não foi fácil (de resto, a longa pausa deixa claro que a espera não aconteceu por acaso)… A história de Sun começa pouco depois do lançamento de The Greatest, num cenário de crise financeira pessoal, que levou Cat Power (ou seja, Chan Marshall) a levantar o seu fundo para a reforma, o que lhe permitiu construir um estúdio ao lado da sua casa, em Malibu. De uma primeira etapa de escrita da qual acabou com uma mão-cheia de canções melancólicas para voz e guitarra passou a nova fase, longe dali, apenas com eletrónicas por ferramentas de trabalho. O tempo passou… Houve dramas pessoais pelo caminho. Até que da reunião com a sua banda de estrada surgiu novo fôlego. E, ao que parece, o espaço de diálogo entre eletrónicas e os espaços mais próximos de heranças da folk e vivências da cultura pop/rock que eventualmente a terão conduzido ao terreno do qual nasceram as onze canções que fazem agora o alinhamento de Sun. A música revela desafios bem resolvidos – as eletrónicas são assimiladas segundo uma linguagem pessoal, tornadas pragmatismo ao serviço de canções sem evidentes citações nem colagens a modelos de referência – e espelha uma vitória sobre as sequelas de uma separação e de um bloqueio que se lhe seguiu (uma das explicações para tão extenso silêncio). Manhattan é um belíssimo exemplo de uma escrita que sabe integrar sugestões escutadas numa batida house, despidas contudo a uma existência quase subliminar, as notas repetidas pelo piano marcando ciclos em loop sobre os quais a voz e as percussões desenham uma canção que, como tantas outras deste disco, sugerem o prazer da descoberta de novas formas (tanto para quem as fez como para quem agora as escuta). Com a ajuda de Philippe Zdar (dos Cassius) nas misturas, Sun é um magnífico exemplo de cómo uma lógica cantautoral pode, sem esquecer as suas fundações folk e rock, caminhar pelos trilhos de um século XXI que toma as eletrónicas como importante e consequente ferramenta. Não enquanto instrumentos polidos em favor de linhas e cenografias asséticas, mas antes como parte de um todo onde não faltam arestas e rugosidades, a tensão da eletricidade, das texturas por vezes abrasivas e percussões auxiliando a voz em canções emocionalmente pungentes, contando com a soberba colaboração de Iggy Pop na extensa e catártica Nothin But Time. Valeu a espera, sim senhor.

Este paraíso tem extras e telediscos


Uma edição especial de Born To Die, de Lana del Rey, a chamada Paradise Edition chega a 13 de novembro com uma série de extras a juntar ao alinhamento do álbum lançado no início do ano. Assim, num segundo disco, este repackage inclui oito inéditos, entre os quais a versão de Blue Velvet recentemente usada numa campanha da H&M (os restantes sendo Ride, America, Cola, Body Electric, Gods And Monsters, Yayo e Bel Air). O disco inclui ainda oito remisturas de temas como Video Games, Born To Die, Blue Jeans e National Anthem. Um DVD extra junta depois os vários telediscos (num total de seis) já criados para canções de Born To Die. E há ainda um single, em vinil de sete polegadas, com duas versões de Blue Velvet.

Podem ver aqui o filme publicitário da H&M ao som de Blue Velvet.

Queer Lisboa 16, dia 6

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O sexto dia do Queer Lisboa 16 propõe como um dos momentos de destaque um filme que nos dá a conhecer a vida e lutas de Vito Russo. Foi ele quem, entre os anos 70 e 80, identificou e sistematizou casos de representação da homossexualidade no cinema, criando o livro The Celluloid Closet, referencia bibliográfica fundamental do cinema queer. Ao mesmo tempo foi importante ativista na luta pelos direitos da comunidade LGBT e uma voz marcante em campanhas de alerta para o financiamento de trabalhos de investigação e projetos de apoio na luta contra o HIV. Morreu, vítima de complicações da sida em 1990. Hoje o documentário Vito, de Jeffrey Schwartz, passa na Sala 3 do Cinema São Jorge pelas 21.30. A programação para hoje inclui ainda títulos como Frauensee de Zoltan Paul (Sala Manoel de Oliveira, 17.15) e Mosquita Y Mari, de Aurora Guerrero (Sala Manoel de Oliveira, 22.00), estas duas na competição para Melhor Longa Metragem de Ficção.

Podem ver aqui a restante programação para hoje. 

Revisitando "Ziggy Stardust"

Retomando o seu gosto pelas antologias de covers, a Paper Bag Records propõe agora um belo gesto comemorativo dos 40 anos do álbum de David Bowie, The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars (1972): um conjunto de novas versões dos 11 temas do álbum, de Five Years a Rock'n'Roll Suicide (+ bónus de John I'm Only Dancing). Participam alguns dos nomes fundamentais do catálogo da editora, incluindo The Rural Alberta Advantage, Young Galaxy e Elliott BROOD — e está tudo disponível para download gratuito no site da PBR.

terça-feira, setembro 25, 2012

A ilusão dos "blockbusters"

I. Quanto vale um blockbuster? Nada que se possa deduzir apenas do facto de ser um... blockbuster. Tudo começou com o admirável Jaws/Tubarão (1975), de Steven Spielberg, de facto o filme que inaugura a idade moderna dos blockbusters, caracterizada por lançamentos cada vez mais amplos (hoje em dia, planetários) e uma acentuada aceleração das regras de rentabilização de cada título (ou de cada produto, como diz a gíria pouco imaginativa dos profissionais do marketing). Depois, os filmes poderão ser "bons" ou "maus", mas importa dizer que nenhum deles se pode medir apenas pelos números das respectivas performances nas bilheteiras.

II. Infelizmente, isso acontece com frequência, graças à acção de um jornalismo (?) bloqueado numa visão banalmente economicista: um filme torna-se "importante" à força de arrastar muitos milhões de dólares... Escusado será dizer que nenhum filme é mais (ou menos) interessante por envolver muitos (ou poucos) milhões. O certo é que aquela visão acaba por simplificar de forma abusiva a inevitável complexidade da vida económica dos filmes — na certeza de que tal dimensão não é estranha à vida cultural dos mesmos filmes, marcando de forma decisiva a sua difusão e percepção.

III. Por tudo isso, vale a pena sublinhar que um dos sintomas mais significativos da actual crise global do cinema decorre, precisamente, do sucesso dos... blockbusters. Porquê? Primeiro, porque a sua dominação estreita a diversidade de oferta dos mercados, impedindo filmes mais "pequenos" (não poucas vezes, com importantes potencialidades comerciais) de encontrarem os seus públicos. Depois, porque é uma ilusão julgar que os números gigantescos de determinadas performances de alguns filmes revelam, necessariamente, uma grande vitalidade do mercado. Informação sintomática, há algum tempo a circular em diversos sites americanos [sugiro artigo da Time sobre 'Summer Movies 2012']: durante o Verão de 2012, nos EUA, venderam-se menos 100 milhões de bilhetes do que na mesma estação, há dez anos. Ponto a ter em conta: os mega-sucessos escondem a realidade muito crua de um mercado que, se não se repensar (a nível global), vai reduzir cada vez mais a base regular de espectadores — ou a base de espectadores regulares.

segunda-feira, setembro 24, 2012

Plano Nacional de Cinema: eureka!

O Garoto de Charlot (1921), de Charles Chaplin.
Aniki-Bobó (1942), de Manoel de Oliveira.
Shane (1953), de George Stevens.
Jaime (1974), de António Reis.
Eduardo Mãos de Tesoura (1990), de Tim Burton.
Eis alguns dos títulos incluídos no novíssimo Plano Nacional de Cinema [texto de Nuno Galopim, no DN], divulgado pelo ministério da Educação e da Ciência e a secretaria de Estado da Cultura.
É caso para dizer: eureka! Finalmente, um gesto no sentido de criar condições (práticas, logísticas, institucionais) para que as crianças e os jovens não sejam condenados a "aprender" a ler imagens & sons através de Morangos com Açúcar e outros horrores narrativos.
O efeito do Plano não será mágico, por certo. Haverá dúvidas, impasses, modos de aplicação que importa depurar. Seja como for, a sua simples existência representa um genuíno desafio à ditadura formal de alguns conteúdos televisivos "para os mais novos"... O texto que se segue foi publicado no Diário de Notícias (22 Setembro), com o título 'Para além da cultura dos morangos'.

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Tempos difíceis. Sob o aparato dos muito reais e dramáticos problemas de emprego, persiste uma profundíssima crise cultural que ninguém da classe política, à esquerda ou à direita, quer enfrentar. Ninguém? Quase ninguém... Através do ministério da Educação e Ciência e da secretaria de Estado da Cultura, o governo de Pedro Passos Coelho entra para a história por colocar em movimento um pensamento muito básico que a nossa democracia se deu ao luxo de ignorar durante décadas. A saber: é fundamental assumir a educação com as imagens cinematográficas (e, sobretudo, para as imagens cinematográficas) como uma missão básica da escola, visando crianças e adolescentes.
Nada a ver com uma cultura “geral” mais ou menos edificante. O que está em jogo é a necessidade política de reagir contra uma outra cultura das imagens que, todos os dias, vai instalando e instilando nos mais novos o pitoresco anedótico dos Morangos com Açúcar e os horrores do voluntarismo televisivo, desembocando no sinistro anti-humanismo de Big Brother e seus derivados.
A triunfante cultura do conflito (ainda e sempre de raiz televisiva) vai manifestar-se com o ruído em que se esgota. E não só porque brotarão da calçada centenas de listas “alternativas” para o Plano Nacional de Cinema... Quem se atrever a valorizar o bom senso desta iniciativa será excomungado como perigoso peão de um governo sobre o qual se tornou obrigatório “dizer mal” (aconteceu a mesmíssima coisa sempre que alguém tentou reflectir sobre algumas iniciativas de José Sócrates, nomeadamente o desenvolvimento da rede de salas digitais programado por Gabriela Canavilhas). Como diria o outro: que se lixem as difamações! Já era tempo de começar a dizer aos jovens que há mais mundos para além da tele-estupidez.