Igor Stravinsky (1882 - 1971) |
Com atraso em relação ao evento — foi no dia 3 de agosto, no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian —, mas na certeza de que este é um lugar que não depende de uma colagem mecânica aos acontecimentos: integrado no programa do Jazz em Agosto, o concerto de Sylvie Courvoisier e Cory Smythe, dois pianos tendo como base A Sagração da Primavera, bailado de Igor Stravinsky datada de 1913, foi uma dessas experiências capaz de nos fazer sentir o génio criativo do jazz, ao mesmo tempo sem nos enredar num qualquer sermão "demonstrativo" sobre a "actualização" dos clássicos ou a "transfiguração" dos modernos.
Formada em música clássica no Conservatório de Lausanne, Courvoisier, em particular, encarará a herança (realmente) revolucionária de Stravinsky como uma matéria capaz de suscitar um metódico trabalho de reinvenção. Seja como for, ela não foi a "protagonista", já que Smythe esteve longe de se reduzir a um "acompanhante". Sob o signo de Stravinsky, o diálogo dos dois pianos funciona mesmo como uma celebração paradoxal, por assim dizer entre o caos que o improviso pode atrair e a solidez estrutural de um jazz cujo sabor vanguardista se confunde, afinal, com uma postura eminentemente... clássica — 60 minutos de maravilha, com alguns espectadores irrequietos a quem faltou a serenidade, que ninguém levaria a mal, de abandonarem a sala.
>>> Stravinsky, A Sagração da Primavera — Sinfónica de Londres, maestro Leonardo Bernstein (1966).
>>> Smythe, um tema do álbum Auto Trophs (2017).