Eis uns breves e deliciosos momentos de televisão. Aconteceu há dias no programa de Graham Norton, na BBC, com Judi Dench e Arnold Schwarzenegger entre os convidados. Evocando a fundamental presença de Shakespeare no trabalho da veterana actriz inglesa, Norton pediu-lhe que declamasse algum dos seus textos. Assim fez, declamando o Soneto 29, When, in disgrace with fortune and men’s eyes — aqui fica o extracto do programa, os versos e também a respectiva tradução de Vasco Graça Moura.
When, in disgrace with fortune and men’s eyes,
I all alone beweep my outcast state, And trouble deaf heaven with my bootless cries, And look upon myself and curse my fate, Wishing me like to one more rich in hope, Featured like him, like him with friends possessed, Desiring this man’s art and that man’s scope, With what I most enjoy contented least; Yet in these thoughts myself almost despising, Haply I think on thee, and then my state, (Like to the lark at break of day arising From sullen earth) sings hymns at heaven’s gate; For thy sweet love remembered such wealth brings That then I scorn to change my state with kings.
I all alone beweep my outcast state,
De mal com os humanos e a Fortuna,
choro sozinho o meu banido estado.
Meu vão clamor o céu surdo importuna
e olhando para mim maldigo o fado.
A querer ser mais rico em esperança,
como outros em amigos e talento,
invejando arte de um, doutro a pujança,
do que mais gosto menos me contento.
Se assim medito e quase me abomino,
penso feliz em ti e meus pesares
(qual cotovia em voo matutino
deixando a terra) então cantam nos ares.
Tão rico me é teu doce amor lembrado,
que nem com reis trocava o meu estado.