quarta-feira, outubro 18, 2023

Encontro na Gulbenkian:
Ligeti + Nancarrow + Ligeti

Quatuor Béla

Quatuor Béla
Julien Dieudegard, Violino
Frédéric Aurier, Violino
Paul-Julian Quillier, Viola
Luc Dedreuil, Violoncelo

György Ligeti
Quarteto para Cordas n.º 1, Metamorfoses Noturnas

Conlon Nancarrow
Quarteto para Cordas n.º 1

György Ligeti
Quarteto para Cordas n.º 2
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Fundação Calouste Gulbenkian
14 out 2023 - 19:00

Como escreveu Bernardo Mariano no programa do concerto, o americano Colon Nancarrow (1912-1997), além de ser uma "figura absolutamente singular na música do século XX", ficou a dever a sua notoriedade (tardia, é verdade) ao facto de o húngaro György Ligeti (1923-2006) o ter descoberto em 1980, empenhado-se pessoalmente em "promover o seu nome e a sua obra na Europa e nos EUA."
Verdadeiro ovni na história musical do século passado (para mim, pelo menos), Nancarrow surgiu através de uma superior performance dos franceses do Quatuor Béla, por assim dizer enquadrado por duas peças de Ligeti (de quem se assinala este ano o centenário do nascimento). Assim, entre as "metamorfoses" e a "micropolifonia" das duas composições de Ligeti, o quarteto de Nancarrow — "polifonia do tempo", lembra também Bernardo Mariano — pareceu desenhar uma ponte formal e, de alguma maneira, afectiva em que, em última instância, se reavaliam as possibilidades de coexistência das sensibilidades, memórias e técnicas das diferentes cordas.
Daí a estranheza, propriamente poética, do evento. Assim, é verdade que as obras interpretadas provêm de um tempo situado entre 1945 (Nancarrow) e 1953-1968 (Ligeti), mas não é menos verdade que a sua singular energia parece enunciar a possibilidade de um futuro que continua por cumprir — como se a música fosse, ou pudesse ser, também um desmentido prático de qualquer calendário cultural.

>>> Metamorfoses noturnas, de Ligeti — álbum do Quatuor Béla, de 2013.


>>> Sobre a participação do Quatuor Béla no Festival de Aix-en-Provence de 2015.