segunda-feira, março 28, 2022

OSCARS 2022
— que aconteceu no Dolby Theatre?

> Debater os Oscars? Digamos que um tema eventualmente interessante, envolvendo sugestivas questões artísticas, a par de opções industriais e comerciais, seria perguntar como — e porquê? — um simpático, competente e banalmente rotineiro telefilme como CODA acaba por ser celebrado (como melhor filme do ano) por uma Academia do cinema e, assim o supomos, cinéfila?

> O certo é que a agressão de Will Smith a Chris Rock afunilou tudo o resto e, em boa verdade, ficou como o momento central da 94ª cerimónia dos Oscars — lamentável, grosseiro, ofensivo, mas central.

> A agressão aconteceu num contexto simbólico (a reorganização da Academia visando uma cada vez maior abertura à pluralidade dos filmes e do cinema) e até cenográfico (o emblemático Dolby Theatre) que está longe de ser banal. A importância e a dignidade de tal contexto suscitam, desde logo, uma interrogação deontológica: que atitude vai a Academia tomar face ao comportamento de Will Smith?

> A interrogação arrasta, aliás, uma dúvida metódica que, compreensivelmente, já começou a ser colocada por alguma imprensa dos EUA: que efeitos tão triste episódio pode ter na própria relação da indústria com Will Smith, em particular com os seus projectos mais imediatos?

> No limite mais poético, mais brutalmente poético, se assim nos podemos exprimir, Will Smith lembrou (quando agradecia o Oscar que lhe foi atribuído poucos minutos depois de ter agredido Chris Rock) que "o amor faz-nos fazer coisas loucas". Exactamente. Seria útil que alguém, ou alguma entidade, confrontasse Will Smith com a pergunta clássica a que, no mínimo, está obrigado a responder: de que falamos quando falamos de amor?