quarta-feira, janeiro 13, 2021

Falas televisivas

RENÉ MAGRITTE
As Férias de Hegel
1958

* Questão a considerar: nos debates televisivos, porque razão, ou razões, os candidatos presidenciais, além de acelerarem a fala, tendem a aumentar os decibeis do seu débito, como se estivessem a dirigir-se a uma multidão? 

* A questão é tanto mais pertinente quanto essa opção pelo aumento da intensidade sonora contamina quase todas as situações em que se apresentam, mesmo quando estão face a um simples entrevistador: falam como se estivessem num dos extremos de um pavilhão desportivo, dirigindo-se a um interlocutor colocado no outro extremo.

* Síndrome do comício? Entendimento da actividade política como uma reprodução infinita de uma lógica comicieira? Em boa verdade, os candidatos presidenciais limitam-se a ilustrar uma regra triunfante na maior parte dos diálogos encenados em televisão, a começar, como é simples confirmar, pelos programas sobre futebol. Dir-se-ia que já ninguém acredita que o outro o esteja, realmente, a escutar. O que, em qualquer caso, não deixa de ser uma interessante questão política.