terça-feira, dezembro 29, 2020

McCartney a solo — Parte III

Ciclos da vida: em 1970, McCartney surgiu como afirmação de solidão e identidade na sequência do apocalipse dos Beatles; em 1980, McCartney II partiu do fim dos Wings para dizer que a música continuava. 2020 e McCartney III aí está para dizer que... Paul McCartney está aí. 
Aos 78 anos, não se trata de provar nada, a não ser que a solidão continua a não decompor a identidade, antes enriquecendo-a com mais um disco a solo. Literalmente: tal como nos capítulos anteriores, Paul tem tudo a seu cargo, voz e instrumentos, composição e imaginação. E não deixa de ser surpreendente que aquele a quem foi colada a imagem da personagem soft, suave e romântica, seja um tão elaborado artesão da crueza envolvente das percussões.
Dessa plenitude feliz, pudica em relação à possibilidade de qualquer transcendência, eis a abertura, Long Tailed Winter Bird.