Convenhamos que, em 2020, num cenário global de pandemia, começar um festival de cinema com 2001: Odisseia no Espaço (1968) é, no mínimo, bizarro. Entenda-se: no sentido desafiante e estimulante que a bizarria cinéfila pode envolver.
Assim acontece na 14ª edição do LEFFEST, recuando mais de meio século para, com a obra-prima de Stanley Kubrick, nos recolocarmos num ponto crítico da actualidade cinematográfica — esse mesmo em que todas as inquietações com os futuros da Sétima Arte (é tempo de recuperarmos o idealismo ancestral das palavras) podem, e devem, ser vividas e pensadas através de uma relação ágil, sistemática e pedagógica com o património de mais de um século de história.
Paul Thomas Anderson, Sharunas Bartas ou Paul Vecchiali são apenas alguns dos nomes cujos trabalhos passarão pelo certame, confirmando que há uma paisagem de criadores em que o cinema-cinema resiste para lá de qualquer ilusão "progressista" enraizada no imaginário dos jogos de video e efeitos especiais... Sem esquecer, a propósito, uma sessão especial com Le Carrosse d'Or (1952), de Jean Renoir, velha e cristalina lição sobre a ausência de fronteiras entre a arte e a vida.
>>> Trailer de 2001 + apresentação de Le Carrosse d'Or por Renoir.