Mathilde van Gheluwe Libération, 22-10-2020 |
Alguma sensibilidade feminista (transversal entre mulheres e homens) gosta de sustentar o seu discurso através de uma equivalência simbólica entre porcos e homens. A mensagem é: os homens que assediam e agridem mulheres comportam-se como porcos.
Eis um exemplo inequívoco: para ilustrar um artigo sobre violências sexuais no mundo dos restaurantes, o jornal francês Libération publica um desenho em que, numa cozinha, uma mulher isolada é agressivamente contemplada por alguns homens/porcos.
Curioso impensado: para denunciar o horror dos desmandos machistas, há um jornalismo "purificador" que dispensa qualquer reflexão sobre as formas de representação da Natureza.
Seria interessante promover um inocente exercício de especulação filosófica, perguntando ao mesmo discurso feminista como interpretaria uma qualquer situação social em que, em nome de um discurso igualmente "purificador", deparássemos com a possível representação de personagens femininas em figuras de porcas.
E, já agora, pensando em opiniões de outra área de militância, seria igualmente interessante escutar algum tipo de reflexão dos vegetarianos.
Enfim, seria, sobretudo, pertinente que cada um se dispusesse a pensar a responsabilidade inerente a qualquer linguagem.