FOTO: Reinaldo Rodrigues/Global Imagens [DN] |
Com a morte de Vicente Jorge Silva — no dia 8 de Setembro, vítima de cancro, contava 75 anos — desaparece uma personalidade nuclear na história de meio século de jornalismo em Portugal. O seu trajecto profissional define-se a partir de uma crença, metódica e obstinada, num princípio ancestral: o respeito pela inteligência do leitor.
Permito-me, por isso, lembrar aqui a clareza de um princípio deontológico que, no começo dos anos 80, encontrei no jornal Expresso, quando Vicente Jorge Silva e Augusto M. Seabra coordenavam, definiam e impulsionavam os conteúdos da sua "Revista". Não se trata de um valor exclusivo de uma época ou de um órgão de informação, mas creio que vale a pena citá-lo.
Que princípio deontológico, então? Não apenas a afirmação do sector cultural como elemento basilar de qualquer estrutura jornalística, mas a abragência temática e ideológica do conceito de cultura, observada e vivida como dinâmica infinita dos valores humanos. Ou ainda, em termos especificamente jornalísticos, para lá do mero registo de "estreias" e "lançamentos": a importância decisiva de saber encarar todos os domínios abordados — a começar pela política — a partir de uma visão cultural.
Sem querer resumir ou santificar as muitas e apaixonadas intervenções de Vicente Jorge Silva nos mais variados domínios, creio que podemos dizer que o essencial da sua herança decorre do facto de ele ter sido um jornalista realmente político. Não pelo seu pontual protagonismo na "cena política", antes por não abdicar de observar e pensar as actividades humanas — a começar pela política — como gestos eminentemente culturais.