© Vítor Higgs |
De Fernando Pessoa sabemos que foi um poeta de vários heterónimos, quer dizer, alguém que transformou o prazer e a insatisfação da escrita em método de infinita prospecção, introspecção e odisseia através das palavras. Qual a herança dessa capacidade de reinvenção? Pois bem, a possibilidade sempre em aberto de a prolongar no presente — e para o nosso presente.
É essa a hipótese, de uma só vez didáctica e surreal, cerebral e sensual, arquitectada por João Céu e Silva no romance inédito A Segunda Vida de Fernando Pessoa, cuja publicação está a decorrer nas páginas do Diário de Notícias. O poeta regressa, assim, com as vestes e a pose de Vicente Guedes, heterónimo que foi preterido como autor de O Livro do Desassossego (para Bernardo Soares).
Estamos perante um envolvente jogo de espelhos — "Tal como acontecia em filmes policiais, não duvidei que estava a ser observado do outro lado do espelho" (cap. 4) — em que qualquer personagem existe como "eu e o outro", gerando um universo alternativo que, perversamente, contamina o trabalho do próprio leitor. As ilustrações de Vítor Higgs sugerem de forma particularmente feliz essa festiva deambulação da linguagem em que, em última instância, o puzzle Pessoa se confunde com a invenção de uma pessoa.
Eis um belo drama, talvez melodrama, visceralmente português — para ler no site do Diário de Notícias, em 12 capítulos.
Eis um belo drama, talvez melodrama, visceralmente português — para ler no site do Diário de Notícias, em 12 capítulos.