domingo, maio 31, 2020

Happy birthday, Mr. Eastwood!

O BOM, O MAU E O VILÃO (1966)
Há qualquer coisa de contundente e paradoxal no facto de Clint Eastwood celebrar hoje, 31 de Maio de 2020, o seu 90º aniversário. Primeiro, porque ele é, não apenas uma das maiores estrelas vivas do cinema dos EUA, mas também alguém que se consolidou como símbolo da própria América; depois, porque essa sua América, historicamente sempre tão ansiosa de se resgatar através da sua simbologia, está a viver uma dramática convulsão interna de que a mediocridade de Donald Trump e a morte trágica de George Floyd são os sinais mais imediatos e perturbantes.
Não sabemos, claro, como o próprio Eastwood encara os acontecimentos das últimas semanas. Seria, aliás, favorecer a mais estúpida demagogia especular sobre os seus pontos de vista face a tais acontecimentos a partir seja do que for que possa estar nos seus filmes. Uma coisa é certa: desde a estreia como realizador, com o muito esquecido e brilhante Play Misty for Me/Destinos nas Trevas (1971) até ao recente, igualmente brilhante, O Caso de Richard Jewell (2019), ele tem sido um retratista interior e do interior do seu país, contemplando-o através de um elaborado pendor crítico que não é alheio a um obstinado amor.
E não deixa de haver também alguma ironia no reconhecimento desse seu labor. De facto, é verdade que grande parte da identidade artística e da mitologia de Eastwood está ligada ao western, género made in USA, por excelência, mas não é menos verdade que, nesse domínio, um dos capítulos vitais da sua filmografia está indissociavelmente ligado a paisagens (geográficas e industriais) da nossa Europa. Que é como quem diz: os três títulos lendários — Por um Punhado de Dólares (1964), Por Mais Alguns Dólares (1965) e O Bom, o Mau e o Vilão (1966) — em que foi dirigido por Sergio Leone. 
A partir de um lugar europeu, olhando a América: Happy birthday, Mr. Eastwood!

>>> Clint Eastwood conversando com James Lipton, em 'Inside the Actors Studio' (5 Outubro 2003).