"Eu quero que, na Europa, ultrapassemos (...) o paradigma nacional", diz Bernard-Henri Lévy. Eis uma frase precisa e contundente que, em qualquer caso, não deixa de ser vulnerável às mais diversas apropriações, por vezes distorcendo o pensamento que a gera. Precisamente para a enunciar, pensar e partilhar, BHL escreveu Hôtel Europe, drama teatral centrado numa "princesa Europa" ameaçada pela leviandade de algumas ideias, fragilizando a possibilidade de uma Ideia aglutinadora, diversa, aberta à diversificação.
Foi em 2014. Depois, ao longo de vários anos (até à realização das eleições europeias, em maio de 2019), Hôtel Europe transfigurou-se em Looking for Europe, performance que BHL assumiu enquanto actor do seu próprio texto, representando-o nas "capitais de espírito europeu", de Kiev a Paris, passando por Bruxelas, Viena ou Lisboa (com uma derivação por Nova Iorque).
Reescrevendo o texto para cada uma das cidades, o autor criou um fascinante palimpsesto que pode ser conhecido através de uma edição especial da revista que ele próprio dirige, La Règle du Jeu (nº 69/70, Setembro 2019). Em jogo está essa dialéctica do nacional e do continental, vista a partir de um lugar francês, assim resumida na versão original de Hôtel Europe:
>>> Se há uma "identidade" que não está a funcionar, não será aí que a encontramos: a identidade, não da França, mas da Europa? É curioso que ninguém o diga. É curioso que nos encham com a "identidade nacional em perigo" quando é do lado da Europa que as coisas se estão a afundar.
>>> Entrevista sobre Looking for Europe [BFMTV, 01-03-2019].