Bong Joon-ho |
Num artigo de balanço dos Oscars 2020, sublinhando em particular o facto de as audiências nos EUA terem voltado a baixar, Claudia Eller escreve no Variety: "Na minha juventude, ver os Oscars era um compromisso televisivo: agora, claramente, já não é."
Na sua secura, as palavras de Eller resumem três dramáticas verdades:
— o próprio conceito televisivo da cerimónia está em lenta decomposição (escusado será dizer que a opção por voltar a não ter apresentador é uma "mensagem" de quem não sabe como comunicar com a sua audiência potencial).
— os poderes específicos das plataformas de "streaming" levaram a indústria (e, em particular, a Academia) a demitir-se de pensar sobre o que é, o que pode continuar a ser, uma audiência tradicional de cinema.
— enfim, a dominação dos circuitos de exibição pela Marvel & Cª faz com que, mesmo os títulos mediaticamente mais queridos — incluindo, claro, o quatro vezes premiado Parasitas —, sejam referências vagas (para não dizer inexistentes) para muitos sectores de público.
Tudo isso deixa, enfim, um paradoxo de sabor amargo: por um lado, o triunfo de um filme da Coreia do Sul é um caloroso sinal dos efeitos mais interessantes da globalização; por outro lado, o simbolismo de tais efeitos nem sempre é acompanhado pela dinâmica dos mercados — são temas, aliás, sobre os quais os decisores portugueses, no seu próprio interesse, poderiam reflectir.