domingo, novembro 24, 2019

Michael J. Pollard (1939 - 2019)

Figura bizarra, inclassificável e fascinante, foi um secundário com uma carreira irregular, mas pontuada por momentos inesquecíveis: o actor americano Michael J. Pollard faleceu no dia 20 de Novembro, em Los Angeles, vitimado por uma paragem cardíaca — contava 80 anos.
Formado no Actors Studio (foi colega de Marilyn Monroe), começou a sua carreira na televisão, tendo surgido, por exemplo, em Alfred Hitchcock Presents, The Andy Griffith Show ou The Lucy Show. A sua peculiar figura "infantil" valeu-lhe pequenos papéis em dois filmes significativos das convulsões económicas e formais da indústria ao longo da década de 60: Vêm aí os Russos, Vêm aí os Russos (1966), de Norman Jewison, e The Wild Angels (1966), de Roger Corman, este uma referência exemplar da nova produção independente.
Seja como for, foi em 1967 que Pollard interpretou o papel que ficou, para sempre, associado à sua imagem: C. W. Moss, o cúmplice nem sempre muito talentoso dos anti-heróis de Bonnie e Clyde, o par de bandidos da Grande Depressão interpretados, respectivamente, por Faye Dunaway e Warren Beatty. A realização de Arthur Penn soube transformá-lo numa personagem cuja vocação caricatural envolvia, afinal, uma desconcertante pulsão trágica — a notável composição de Pollard valeu-lhe uma nomeação para o Oscar de melhor actor secundário.
Em 1972, obteve um dos seus poucos papéis principais em Billy the Kid, História de um Patife (título original: Dirty Little Billy), por certo um dos mais brilhantes westerns "revisionistas" dos anos 60/70, encenado num tom de surpreendente realismo barroco. Vimo-lo também, por exemplo, em Melvin e Howard (1980), insólita comédia de Jonathan Demme sobre a herança de Howard Hughes, Roxanne (1987), variação moderna de Cyrano de Bergerac com assinatura de Fred Schepisi, Tango & Cash (1989), thriller quase burlesco de Andrei Konchalovsky, Dick Tracy (1990), admirável recriação da BD por Warren Beatty, e Arizona Dream (1993), comédia surreal de Emir Kusturica. Ironicamente, depois de Bonnie e Clyde, que lhe valeu também nomeações para os Globos de Ouro e os BAFTA (sem qualquer vitória), nunca mais obteve qualquer nomeação na sua carreira de mais de meio século.

>>> Bonnie e Clyde: Michael J. Pollard + Faye Dunaway + Warren Beatty.


>>> Entrevista com Skip E. Lowe, em 1990.


>>> Obituário em The Washington Post.