Chega um e-mail que começa assim:
Lisboa, 30 de julho de 2019 - É já esta quinta-feira, dia 1, que estreia o tão esperado nono filme da saga Velocidade Furiosa em todas as tuas salas Cinema City. Os bilhetes já estão à venda, tanto nas bilheteiras físicas como no site, para que não percas a história protagonizada por Dwayne Johnson e Jason Statham, novamente nos papéis de Luke Hobbs e Deckard Shaw.
Quem me trata assim por "tu"?
Em boa verdade, a mensagem não tem nada de pessoal, já que se destina, globalmente, a representantes da comunicação social — aliás, a encimá-la está mesmo esta esplendorosa designação: "comunicado de imprensa".
Comunicado?
Imprensa?
Não estão em causa as salas do Cinema City e o cordial profissionalismo das suas estruturas. O que se discute é este linguajar de "agências", "consultores" e outras entidades, agentes de uma cultura comunicacional (?) que considera que fazer comunicados de imprensa é acumular mensagens deste teor, pueris e informativamente inúteis. Tu?
É certo que o nono filme da saga Velocidade Furiosa é um daqueles objectos de atroz mediocridade, estranhos a qualquer gosto cinematográfico, que nos faz pensar que, algures, há quem esteja mesmo empenhado em matar definitivamente qualquer sensibilidade cinéfila. Mas até podia ser uma obra-prima. Em qualquer caso, não se vislumbra qualquer motivação profissional, ainda menos conceptual, para esta escrita e o seu triunfante desenlace:
De certeza que não vais querer perder a possibilidade de assistir a mais um êxito deste sucesso de bilheteiras e logo no Cinema City!
Sem esquecer a desastrada ironia: a projecção de imprensa deste mesmo filme teve lugar no... Cinema City! Caro leitor, é caso para perguntar: compreendeste?