ÉLIE FAURE (1873 - 1937) |
>>> "Quanto mais conhecemos, dizia Leonardo, mais amamos."
Ele conheceu. Aos seus olhos, a forma não era mais do que o símbolo de uma realidade intelectual superior de que o sorriso do rosto e o gesto da mão exprimiam a direcção fugidia e o carácter infinito. É uma concepção que, para permanecer plástica, tem necessidade de se apoiar num conhecimento formidável, conciso, implacavelmente objectivo da matéria da vida. Parece que ele compreendeu tudo. O seu Baco é o pai do seu São João Baptista. Nele, os velhos dogmas e os sentimentos novos já não se combatiam. Aceitava o mundo. Adivinhava grandes coisas. Na sua Léda, em que a asa do cisne segue com o seu abraço a linha da lira que parte do braço vivo, do peito quente e redondo para descer até aos pés nus, há, no meio das ervas, um ovo quebrado de onde acabam de sair crianças que colhem flores. Apercebia-se da fonte comum e do círculo eterno das coisas. Descia ao mais profundo da natureza, sem outro intermediário para além dos seus sentidos, entre o universo exterior que colhiam sem pressa e o universo interior que governava a sua emoção. E quando expunha os olhos para observar nos rostos e nas atitudes dos homens os resultados da sua própria meditação, constatava que os seus rostos e atitudes eram feitos do contacto do seu espírito vivo com o espírito vivo das coisas que os rodeavam.
ÉLIE FAURE
Histoire de l'Art - L'Art Renaissant
Gallimard, Folio, 1988
Baco (1511-15) |
São João Baptista (1513-16) |
Léda (1510) |