Eis Tommaso, novo e fascinante ovni de Abel Ferrara: Willem Dafoe interpreta Tommaso, cineasta americano exilado, a viver em Roma com a mulher e a filha... Acontece que Ferrara, himself, está a viver em Roma, por mera coincidência, com a mulher e a filha que, detalhe insólito, interpretam no filme a mulher e a filha de Tommaso... Enfim, será inevitável referir que Ferrara assume o auto-retrato de forma tão directa quanto fantasmática, incluindo memórias perturbantes da sua toxicodependência. O certo é que o filme está muito para além de qualquer dispositivo "confessional", evoluindo, entre natural e surreal, com uma inteligência que confirma Ferrara como um artista de inusitadas ousadias narrativas e éticas — Palma de Ouro para o filme mais inclassificável de Cannes.