O pai da escritora Emmanuèle Bernheim decidiu colocar termo à sua existência numa clínica, na Suíça, especializada na chamada "morte assistida" — sobre esse processo, ela escreveu o livro Tout s'est bien passé. A partir desse livro, Bernheim e o cineasta Alain Cavalier começaram a trabalhar num filme que eles próprios iriam interpretar (Bernheim no seu papel, Cavalier na personagem do pai). O certo é que uma doença súbita da escritora conduziu o projecto a um final abrupto: Être Vivant et le Savoir (à letra: 'Estar vivo e sabê-lo') é o outro filme que Cavalier fez a partir dessa experiência singularmente intimista. Deparamos com mais um exercício minimalista de um dos grandes (e quase sempre esquecido) mestres do cinema francês, deliciando-se e encantando-nos com os poderes das pequenas câmaras "amadoras" que continua a usar, prolongando o trabalho de títulos como René (2002) ou Irène (2009) — ou como o cinema, técnica & método, pode ser um terno bisturi das convulsões dos corpos e das ideias, porventura da alma.