terça-feira, novembro 06, 2018

"O Outro Lado do Vento"
— o filme do ano

Simplifiquemos. Sem receio de o espaço crítico ser confundido com uma prática banalmente panfletária — até porque convém não ceder ao cinismo ambulante da nossa vida "social", lembrando que um panfleto, se for caso disso, pode não ser coisa banal.
Simplifiquemos, então: lançado na Netflix, O Outro Lado do Vento, de Orson Welles (1915-1985), é, muito simplesmente, o filme do ano. Depois de um silêncio de décadas (Welles iniciou a rodagem no começo da década de 70, só tendo sido possível concluir a sua pós-produção em 2018), deparamos com um objecto assombrado pelo mais actual dos temas. A saber: a morte anunciada do cinema, à deriva na vertigem de uma nova ordem — económica, política e simbólica — do audiovisual.
Simplificando, para já: o génio de Welles não é uma voz ténue, resgatada do passado, já que reflecte um labor criativo em tudo e por tudo ligado aos impasses do nosso presente.
O cinema existe, hélas! E isso não é simples.