domingo, outubro 21, 2018

O regresso de Glenn Close

Regresso? Em boa verdade, Glenn Close nunca desapareceu do mapa. O certo é que com a sua performance em A Mulher ela pode chegar às nomeações dos próximos Oscars — este texto foi publicado no Diário de Notícias (16 Outubro).

A vida dos filmes, e através dos filmes, pode ser francamente insólita. Glenn Close, por exemplo. Actriz americana de enorme talento, conhecida e reconhecida desde que integrou o elenco de Os Amigos de Alex (1983), de Lawrence Kasdan, é muitas vezes citada como protagonista de uma consagração eternamente adiada. De tal modo que já obteve seis nomeações para Oscars de interpretação — incluindo por Atracção Fatal (1987) e Ligações Perigosas (1988), por certo os seus filmes mais famosos —, mas nunca ganhou.
Reencontramo-la, agora, a interpretar a personagem central de A Mulher, co-produção Suécia/Reino Unido/EUA com realização do sueco Björn Runge. Lançado há mais de um ano no Festival de Toronto, o filme só chegou às salas dos EUA em Agosto de 2018, estando agora a ser lançado em muitos países (incluindo Portugal, com estreia agenda para quinta-feira). De tal modo que se especula sobre a possibilidade de Glenn Close obter, pelo menos, uma sétima nomeação para um Oscar. Será uma forma de redescoberta, justificada e calorosa, embora seja forçoso reconhecer que A Mulher (título original: The Wife) se fica pelos limites de uma eficácia dramática típica de muitos telefilmes de produção corrente.
Glenn Close interpreta a mulher de um escritor (Jonathan Pryce) que, um belo dia, recebe um telefonema a informá-lo que foi galardoado com o Nobel da literatura... Digamos, para simplificar, que a viagem do casal a Estocolmo, para receber o prémio, irá funcionar como um processo de inesperada e violenta revelação de segredos incrustados numa longa vida comum.
O trabalho de Runge nunca ultrapassa as matrizes mais convencionais, padecendo mesmo de uma psicologia “demonstrativa” de algum modo reforçada pela utilização retórica dos flashbacks. O melhor de A Mulher está, sem dúvida, no seu elenco, importando referir as passagens de testemunho que aqui se consumam: por um lado, a personagem do filho do casal está a cargo de Max Irons, filho dos actores Jeremy Irons e Sinéad Cusack; por outro lado, nas cenas do passado, a mulher é interpretada por Annie Starke, filha da própria Glenn Close e do produtor John H. Starke.