Rowan Atkinson tenta renovar a sua caricatura de James Bond, mas até mesmo o humor parece estar em crise — este texto foi publicado no Diário de Notícias (2 Outubro).
A actual ocupação das linhas da frente do mercado cinematográfico por modelos de espectáculo mais ou menos ligados aos super-heróis (Marvel, etc.) faz-nos esquecer, por vezes, um dos seus efeitos secundários. A saber: até mesmo um género tão popular como a comédia vive dias difíceis — a imaginação do humor reflecte uma triste falta de... imaginação.
Mr. Bean |
Os resultados são tanto mais decepcionantes quanto nem sequer parece haver a capacidade de pensar uma narrativa especificamente cinematográfica, liberta dos mecanismos e, sobretudo, dos tempos narrativos da televisão. É verdade que há dois ou três momentos em que pressentimos a energia de um humor capaz de combinar a dimensão cáustica da caricatura com uma elaborada encenação do corpo do actor (por exemplo, a cena do restaurante em que English tenta confeccionar um prato de camarões...). O certo é que esta história de terrorismo cibernético pouco mais consegue do que uma colagem arbitrária de momentos pouco inspirados.
Temos ainda a presença de Emma Thomspon, a compor uma primeira-ministra algo atabalhoada... E Olga Kurylenko a tentar, de alguma maneira, evocar o seu papel de mulher fatal em 007: Quantum of Solace (2008)... Mas a sensação geral é a de um projecto à deriva, marcado pelas saudades de Mr. Bean.