1. É o mais universal cliché do espaço televisivo: o repórter coloca-se de frente para a câmara e, empunhando o seu microfone, relata aquilo que está acontecer atrás de si... Por vezes, limita-se a uma informação redundante, porque já avançada pelo pivot em estúdio. Em qualquer caso, este é um dispositivo que parece acreditar (ou querer fazer acreditar) que estar lá é condição suficiente para garantir uma verdade automática, unívoca e inquestionável.
2. Curiosa perversão: por vezes, o acontecimento "revolta-se" contra o seu próprio relato televisivo. Assim aconteceu, a 31 de Agosto, na CNN, num directo de um comício de Donald Trump: com Wolf Blitzer em estúdio, o repórter Jim Acosta viu-se compelido a quebrar a regra do olhar frontal para a câmara porque, de facto, a agitação dos apoiantes de Trump era dirigida para ele, aliás, contra ele, com insultos à CNN e uma histeria de gritos e cartazes a denunciar as célebres fake news [video].
3. O episódio é sintomático e revelador — embora não me pareça que haja muita disponibilidade jornalística para reflectir sobre ele. De facto, na sua mediocridade filosófica, o imaginário Trump não se limita a propalar uma visão grosseira da liberdade de imprensa (pondo-a, objectivamente, em causa). Como se prova, na sua violência anti-democrática, tal visão tende a ser expressa até mesmo contra a logística da informação. Na prática, o episódio demonstra a necessidade de repensar a própria definição dos directos televisivos. E talvez um pouco mais. Encore un effort...