sábado, abril 14, 2018

Milos Forman (1932 - 2018)

Nome grande das novas vagas europeias, autor checo que triunfou em Hollywood, vencedor de dois Oscars, Milos Forman faleceu no dia 13 de Abril em Danbury, Connecticut — contava 86 anos.
A sua obra e, mais do que isso, a sua vida reparte-se em dois capítulos, um na Checoslováquia, outro nos EUA, separados pelos acontecimentos da Primavera de Praga, em 1968, e pela invasão do país pelas tropas do Pacto de Varsóvia — Forman estava em Paris para montar um novo projecto, decidindo na altura rumar aos EUA. Em boa verdade, era já um cineasta com uma obra significativa, tendo conseguido, através de ácidas comédias sociais, como Os Amores de uma Loira (1965) e O Baile dos Bombeiros (1967) [extracto], desmontar o cinismo repressivo da sociedade comunista.


Começou na produção americana com Taking Off/Os Amores de Uma Adolescente (1971), também uma comédia sobre usos e costumes, de alguma maneira tentando encontrar um registo adequado para temas enraizados na sua experiência anterior. Seria consagrado com Voando sobre um Ninho de Cucos (1975), adaptação do romance de Ken Kesey que, preservando a dimensão de fábula sobre as convulsões da verdade humana, continua a ser um dos poucos filmes a obter o chamado quinteto mágico atribuído pela Academia de Hollywood. Que é como quem diz: ganhou Oscars nas categorias de filme, realizador, actor (Jack Nicholson), actriz (Louise Fletcher) e argumento (adaptado, por Lawrence Hauben e Bo Goldman).
Seguiu-se o musical Hair (1979), na época fenómeno de muitos e sugestivos simbolismos mas, por certo, não um dos seus filmes mais importantes. Forman teria nova consagração, em 1984, com o mozartiano Amadeus (mais oito Oscars, incluindo filme e realização), mas pelo meio ficou um filme pouco visto, ainda hoje virtualmente esquecido, embora de raro fulgor dramático: Ragtime, tendo como base o romance de E. L. Doctorow, revisita a teia social de Nova Iorque no começo do século XX, além do mais encenando de forma subtil as relações entre brancos e negros — seria o derradeiro filme de James Cagney [trailer].


Seguem-se três filmes tão atípicos quanto fascinantes:
Valmont (1989), notável adaptação de Ligações Perigosas, de Choderlos de Laclos (um ano depois da versão de Stephen Frears);
Larry Flynt (1996), genuíno e desencantado objecto liberal, na grande tradição de Hollywood, sobre o editor da revista pornográfica Hustler;
Homem na Lua (1999), prodigiosa evocação do bizarro Andy Kaufman (1949-1984) num universo de crueldade televisiva, provavelmente o mais complexo trabalho de composição de Jim Carrey, sem esquecer a extraordinária Courtney Love [trailer].


Ainda realizou Os Fantasmas de Goya (2006), um curioso retrato do pintor e da sua pintura como ideal de beleza. Como actor, vimo-lo a interpretar o ex-marido de Catherine Deneuve em Os Bem-Amados (2011), deliciosa comédia romântica & musical de Christophe Honoré.


>>> Obituário: New York Times + The Guardian.
>>> Site oficial de Milos Forman.
>>> Entrevista com Charlie Rose (1997), sobre Larry Flynt.