Os Oscars são uma mera repetição dos outros prémios?... Eis um drama que, sendo conceptual, será sobretudo comercial — este texto foi publicado no Diário de Notícias (3 Março).
Quem vai ganhar os Oscars? Em boa verdade, creio que podemos formular uma pergunta francamente mais interessante, tanto do ponto de vista cinéfilo como estatístico. A saber: quem pode ganhar os Oscars? Não se trata, entenda-se, de entrar naquele jogo pueril segundo o qual o “meu” candidato é melhor que o “teu”... Trata-se, isso sim, de avaliar as possibilidades de escolha dos 7258 membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas que vão consagrar os vencedores de 24 categorias.
Ora, o leque dessas possibilidades tem-se reduzido de forma drástica. Basta observar os prémios atribuídos pelas mais diversas associações (dos profissionais da indústria aos críticos) ao longo dos últimos três meses. Com diferenças mais ou menos sensíveis, os premiados pertencem a um grupo restrito de opções e vão-se repetindo de forma quase irónica... Consensos alargados? Não exactamente. Acontece que a ideia de que se trata de premiar os filmes estreados ao longo de doze meses foi sendo superada por uma lógica — industrial e mediática — que faz com que os principais candidatos sejam, na sua maioria, estreias do último trimestre do ano.
Como é óbvio, esta situação não invalida o reconhecimento dos méritos dos filmes nomeados. Mas produz um perverso efeito de monotonia: os Oscars parecem ser uma “repetição” dos prémios já atribuídos. Mais exactamente: os Oscars deixaram de se distinguir como cerimónia de celebração do cinema pela gente do cinema, para surgirem como o capítulo final de uma história contada e repetida ao longo dos últimos meses... Hollywood e os seus agentes teriam, talvez, interesse em pensar o problema. E perguntar, por exemplo, se os Oscars são a defesa de um universo criativo ou apenas o pretexto para uma campanha formatada.
Como é óbvio, esta situação não invalida o reconhecimento dos méritos dos filmes nomeados. Mas produz um perverso efeito de monotonia: os Oscars parecem ser uma “repetição” dos prémios já atribuídos. Mais exactamente: os Oscars deixaram de se distinguir como cerimónia de celebração do cinema pela gente do cinema, para surgirem como o capítulo final de uma história contada e repetida ao longo dos últimos meses... Hollywood e os seus agentes teriam, talvez, interesse em pensar o problema. E perguntar, por exemplo, se os Oscars são a defesa de um universo criativo ou apenas o pretexto para uma campanha formatada.