segunda-feira, novembro 20, 2017

"Liga da Justiça": mais do mesmo... (2/2)

Na guerra dos super-heróis, Liga da Justiça é o novo episódio: os milhões de dólares acumulam-se e as ideias escasseiam — este texto foi publicado no Diário de Notícias (16 Novembro), com o título 'Batman, Super-Homem & Cª. voltam a salvar o planeta Terra'.

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Na verdade, a guerra que os super-heróis estão a travar não é do mesmo teor daquelas que os fãs, entusiastas ou desiludidos, vão consumindo. As suas batalhas são financeiras — nos postos de comando estão os exércitos dos gestores da produção e especialistas do marketing. Dito de outro modo: Hollywood tornou-se o cenário de um confronto bélico entre os filmes da Marvel e da DC Comics. Liga de Justiça, com chancela da DC Comics, é apenas o mais recente capítulo desse conflito de muitos milhões de dólares.
Frente a frente estão o Marvel Cinematic Universe (MCU) e o DC Extended Universe (DCEU), precisamente os dois sistemas que gerem o património dos mais conhecidos heróis da banda desenhada. Digamos, para simplificar, que a Marvel vai na linha da frente. Desde Homem de Ferro (2008) até ao recente Thor: Ragnarok, passando pelos vários títulos com os Vingadores, o MCU tem-se distinguido por uma presença regular e agressiva nas salas de todo o mundo, mantendo ligações com diversos estúdios, com destaque para a Disney (consolidando, aliás, um novo universo de produção/distribuição, já que, em 2009, a Walt Disney Company adquiriu a Marvel Entertainment).
A DC Comics inaugurou a sua actual estratégia com Homem de Aço (2013), dirigido também por Snyder, rentabilizando a popularidade daquele que é o seu herói mais emblemático: Super-Homem. O impacto do filme não se repetiu em Batman v. Super-Homem: O Despertar da Justiça (2016), de novo com assinatura de Snyder. Em qualquer caso, sempre em ligação com a Warner Bros., o DCEU teve já este ano um dos seus sucessos mais significativos, Wonder Woman, apontado por vários analistas americanos da indústria como um momento inovador, capaz de fazer evoluir a dinâmica global das aventuras de super-heróis.
Não admira que o novo Liga da Justiça tenha sido descrito por alguns daqueles analistas (veja-se, por exemplo, a revista Forbes) como um teste importante: conseguirá a aliança Warner/DCEU relançar e “modernizar” a sua colecção de heróis? Na visão dos mais cépticos, a questão coloca-se de forma bem diferente: estaremos a assistir ao fim de Hollywood como indústria de... cinema, dando lugar a uma rotina de super-produções em que apenas cabem as derivações da BD e dos videojogos?
Tendo em conta o riquíssimo património acumulado por Hollywood ao longo de mais de cem anos, a pergunta gera outra: a concorrência Marvel/DC Comics vai criar uma paisagem de “franchises” sem qualquer relação com os valores artísticos e comerciais que, no começo do século XX, geraram a “fábrica de sonhos” da cidade de Los Angeles? Para já, a única consolação é que a Terra foi salva por Super-Homem e seus companheiros...