* PEREGRINAÇÃO, de João Botelho
[ DN, 02-11-17 ]
Como se prova, para além do piedoso determinismo de muitas ficções televisivas, há outras maneiras, intelectualmente mais criativas e estimulantes, de pensar a história de Portugal. João Botelho continua a fazê-lo através de uma laboriosa e obsessiva relação com o nosso património literário. Depois de Os Maias (2015), segundo Eça de Queirós, propõe-nos um inesperado espectáculo musical ancorado na Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto. E musical porque a narrativa fragmentária das proezas do herói no século XVI surge pontuada pelas canções de Por Este Rio Acima (1982), de Fausto, agora recriadas por Luís Bragança Gil e Daniel Bernardes. O resultado é um fresco histórico em que contemplamos o misto de grandiosidade e irrisão de que somos feitos — realismo contemporâneo, enfim.