2017 |
O universo Star Trek surge em mais uma derivação televisiva — este texto foi publicado no Diário de Notícias (23 Setembro), com o título 'O universo "Star Trek" está de volta à televisão'.
A evolução de Star Trek, tanto em televisão como em cinema, é um labirinto de muitas personagens e histórias, nem sempre contadas por ordem cronológica. Simplificando (e simplificando muito), digamos que a interrogação recorrente será: mas afinal o que aconteceu depois das aventuras originais do capitão James T. Kirk e do humano/vulcano Spock (interpretados, respectivamente, por William Shatner e Leonard Nimoy)? Agora, chegou a altura de inverter a pergunta: o que aconteceu... antes? É essa a proposta da nova série Star Trek: Discovery, uma produção da CBS, disponível na plataforma Netflix [desde segunda-feira, dia 25].
1979 |
O mais rudimentar bom senso poderá levar a perguntar como é os espectadores se vão entender no meio de tantas referências cruzadas... A primeira resposta estará no próprio fenómeno de culto que envolve Star Trek. Duas referências emblemáticas enquadram tal fenómeno. Desde logo, a referida série original que, já lá vão 50 anos, foi um caso espectacular de popularidade (numa altura em que se destacavam outras séries como Missão Impossível ou Get Smart, ambas, curiosamente, também já adaptadas ao cinema). Depois, o facto de o cinema há muito ter emprestado nova vida ao universo Star Trek: o primeiro filme, intitulado Star Trek: The Motion Picture, dirigido por Robert Wise, foi lançado em 1979; depois, já surgiram mais doze títulos, o último dos quais, Star Trek: Além do Universo, de Justin Lin, teve estreia no Verão de 2016.
Contra os Klingons
Os criadores da nova série, Bryan Fuller e Alex Kurtzman, mostram-se conscientes da necessidade de lidar com essa amplitude temática e mitológica. Aliás, ambos apresentam currículo com passagem pelas derivações televisivas e cinematográficas de Star Trek: Fuller foi argumentista da série Star Trek: Deep Space Nine (1993-99), tendo escrito e produzido vários episódios de Star Trek: Voyager (1995-2001); por sua vez, Kurtzman participou nos argumentos de Star Trek (2009) e Além da Escuridão: Star Trek (2013), precisamente os dois títulos que relançaram a saga nas salas escuras, ambos realizados por J. J. Abrams — isto sem esquecer que Kurtzman dirigiu a nova versão de A Múmia (2017), com Tom Cruise.
2009 |
Akiva Goldsman, vencedor do Oscar de argumento adaptado por Uma Mente Brilhante (2001), é um dos produtores da nova série. Em entrevista ao site oficial de Star Trek, falou do seu fascínio pela ficção científica, “um maravilhoso espelho carnavalesco da experiência humana”. E não deixou de sublinhar a actualidade simbólica de Star Trek, celebrando a “diversidade” e a “inclusão”. A série é sobre “ a coexistência de culturas, tema que sempre considerei intemporal mas que, agora, me parece de uma fundamental oportunidade”. Dito de outro modo: Star Trek: Discovery começa com 15 episódios, mas pode vir a gerar muitos mais.