Celebrizado pela sua interpretação do Fado do Embuçado, João Ferreira-Rosa faleceu no dia 24 de Setembro, no Hospital de Loures — contava 80 anos.
Muito para além do Embuçado, foi acima de tudo um intransigente e coerente defensor da tradição do fado, resistindo a contaminações fáceis, mais ou menos impulsionadas pela lógica mercantil da chamada "world music". A sua criatividade traduziu-se também nos poemas que escreveu para vários fados, incluindo os belíssimos Triste Sorte [video], Fado das Mágoas e Pedi a Deus. Em 1966, criou em Alfama a Taverna do Embuçado, durante as duas décadas que se seguiram um lugar emblemático do fado tradicional. Ontem e Hoje (1996), gravado no Palácio Pintéus, Loures (para cuja preservação e restauro a acção de Ferreira-Rosa foi determinante), é normalmente apontado como o álbum que melhor faz a síntese das suas qualidades de intérprete.
Ando da vida à procura
Duma noite menos escura
Que traga luar do céu.
Duma noite menos fria,
E em que não sinta a agonia
Dum dia a mais que morreu.
Vou cantando amargurado,
Mais um fado e outro fado
Que fale do fado meu.
Meu destino assim cantado
Jamais pode ser mudado
Porque do fado sou eu.
Ser fadista é triste sorte,
Que nos faz pensar na morte
E em tudo o que nós morreu.
E andar na vida à procura
Duma noite menos escura
Que traga luar do céu.
>>> Obituário no Diário de Notícias.