de Christophe Honoré
[DN, 24-08-2017]
Em época de sobrevalorização de desenhos animados digitais, quem se lembraria de regressar ao século XIX para propor uma festiva versão da obra da Condessa de Ségur? Pois bem, o francês Christophe Honoré que, no seu filme anterior, Metamorfoses (2014), convocara referências ainda mais remotas, adaptando Ovídio.
O retrato da pequena Sofia, interpretada pela exemplarmente bem disposta Caroline Grant, impõe-se como símbolo de um cinema que (ainda) acredita na presença física dos actores e na possibilidade de integrar um artifício de desconcertante primitivismo técnico — observe-se a breve, mas sedutora, figuração dos animais através do recurso a uma animação clássica. Tudo isto sem perder os sabores do conto moral sobre a ordem dos adultos face à desordem da infância. Ainda há filmes felizes.