Le Point |
Esta imagem, e a sua pergunta (que presidente será Emmanuel Macron?), transporta o mais dramático realismo político dos nossos tempos. De facto, passámos os dias a ouvir quase todo o mundo mediático, a começar pelas infinitas redundâncias televisivas, a proclamar as diferenças óbvias entre Emmanuel Macron e Marine Le Pen e, afinal, não sabemos "que presidente" será o presidente eleito.
Reconhecer a nossa perplexidade não envolve nenhum branqueamento da demagogia populista de Le Pen. Muito menos qualquer demonização de Macron em nome, por exemplo, dessa "inocência" endémica de uma esquerda que, em situações deste género, consegue sempre rasurar a complexidade da história para se apresentar como o garante de uma "purificação" sem alternativa.
Acontece que, justamente, a eleição de Emmanuel Macron expõe no coração do real um enunciado que, entre nós, bem conhecemos desde as convulsões de 1974 — um enunciado que direitas e esquerdas, em amena e irresponsável cumplicidade, sempre se empenharam em recalcar. A saber: a própria dicotomia direita/esquerda é insuficiente para descrever os gestos políticos, seus contextos e potencialidades.
É por isso que, neste dia, importa não nos ficarmos pelo cruel assombramento que nos faz perceber que o fenómeno da Frente Nacional transcende a derrota de Le Pen, sendo um dado que, em nome do mais estrito pragmatismo, não podemos ignorar para lidar com o estado das coisas. Ao mesmo tempo, devemos não ceder ao niilismo chic e lembrar que Macron se tornou, para já, a peça central e mais luminosa dessas coisas e do seu estado — do seu Estado, entenda-se.